sexta-feira, 3 de agosto de 2007

O complexo de Mutaípi Vene


Hoje vou tratar de algo muito sério. Você já deve ter ouvido falar de vários complexos como, por exemplo, complexo de Golgi, complexo B, complexo do Alemão, número complexo, complexo de Édipo e outros muito por aí. Agora apareceu: “o complexo de Mataípi Vene”. Não é algo que surgiu na Indonésia, China ou outro país, mas na nossa querida Angola.

Este artigo é, vou dizer, “complexo” e vai fugir um pouco do meu estilo de escrever. Eu vou jogar "conversa fora". Se trata de fragmentos de memória enquanto procuro elementos do texto. É um daqueles textos chatos que nem a física: “uma ação corresponde uma reação de mesma direção e sentido contrário”. Na verdade eu só sei o início, não sei como terminará. Para não perder seu tempo, só o leia se você acha que passou o tempo de acabarmos com o pensamento segundo o qual há angolanos “superiores” que os outros. Também para aquele que é contra pessoas que se desesperam e partem para a ignorância quando não conseguem mais convencer a ninguém na base de argumentos.

Inicio falando da adoção. Eu não contra adoção de crianças. Acho até que é um ato de amor. Mas, a doença que ataca Angola provém de alguns angolanos adotivos ou que se “adotam”. Muitos não têm dó e querem dominar os donos doa a quem doer.

Por exemplo, eu fico muitas vezes sem entender por que quando Portugal venceu Angola, o nosso país, no mundial da Alemanha, muitos saíram às ruas para comemorar! Comemorar a derrota? Na época da guerra, muitos jovens em idade militar se consideravam estrangeiros. Por isso não cumpriam o serviço militar. Com o fim da guerra (re)adquiriram a nacionalidade angolana. Quando se deram conta que as empresas petrolíferas pagavam muito mais aos estrangeiros, voltaram a obter nacionalidade estrangeira. Também tenho notado um número crescente de personalidades que já manisfestaram o interesse em adquirirem a nacionalidade angolana, a qualquer custo. Vemos aqui os angolanos por conveniência. Angolanos camaleões. Eu não quero ser injusto contra ninguém. Se eu estiver errado, por favor, corrijam-me.

A primeira vez que li “Mataípi Vene”, não perdi tempo e pus-me a descodificar isso, porque é uma estrutura estranha à nossa matriz bantu, em termos de nomes próprios, principalmente. Causar-me-ia muita angústia caso não encontrasse uma explicação aplausível. É bom antecipar que isso não se trata de uma sessão de descarrego ou “despacho”, talvez melhor que fosse porque a baixaria não seria tão grande assim. No adágio popular diz-se que “para quem sabe ler um ponto é uma frase”. Com as letras nós podemos elogiar, criticar, fazer sátira, fazer gozação ou insultar outras pessoas e até sermos criativos. Por exemplo, eu conheço alguém que se chama Onireves. Na verdade esse nove nasceu da inversão do nome Severino.

No entanto, eu sinto que está no ar uma coação social prolixa e repulsiva pelo anonimato, que é a caricatura mais imunda e ponte da desgraça da nossa sociedade. Alguns formadores de opinião se transformaram numa verdadeira brochura social, nessa concupiscência doentia. E há explicação desse comportamento juvenil. Ah, que pena que não se fazem mais escritores com heterônimos como antigamente (Fernando Pessoa), que era o elixir literário...

Porém, esse verme nos emociona pela ingenuidade, como nos velhos tempos, nos bons tempos de infância, de delicadeza, quando o indivíduo cometia todos os erros ao mesmo tempo. É isso que acontece com o medíocre comuna treinado para ser revolucionário, para destruir tudo. Pior é quando acha que pode e tem que falar qualquer bobagem e todos têm que bater palmas, comentar nas esquinas das ruas, enfim, aquilo que muitos chamam de “orgulho de lúcifer”.

Vene queria nos dar uma lição de Angola. O infame é portador de “complexo de superioridade”, mas que no fundo é fraco. Ele procurou em vão esconder as suas frustrações e fracassos. Pior que isso, não quer que tenhamos cronistas decentes como o brilhante intelectual Sousa Jamba. Vene, que literalmente se ajoelhou perante Sousa reconhecendo a sua insignificância, fala, humilha as pessoas com sua falta de respeito na esperança de que todo mundo ache “tudo bom”, como se fôssemos um bando de passivos carneirinhos.

Hoje, existem pessoas “online” que estão atentas, que não lêem os fatos com superficialidade, que sabem reagir às provocações. Se admitirmos que qualquer sanguessuga nos trate mal, estaremos perdidos.

Por outro lado, pessoas que querem que nos acostumemos com sua frouxidão querem transformar o “Jornal de Angola” num palanque de baixaria, como se o povo fosse um facção de néscios dispostos a engolir todos os sapos, as sátiras, chistes e ironias de mau gosto. Nós não somos objetos nem saco de pancadas. Somos uma sociedade com opiniões. Chega de nos bombardearem com insultos.

A essa altura o leitor se perguntará: afinal o que é “o complexo de Mataípi Vene”? Eu preciso retomar aqui alguns fatos. Vou fazer um recorte dos últimos 30 dias.

Um pouco antes do 10º Congresso da UNITA, Sousa Jamba fez um artigo afirmando que se participasse do evento votaria no Presidente Samakuva e apresentou suas razões. Realizou-se o Congresso que foi campeão de bilheteria. Como uma forma de ofuscar esse evento, as autoridades prenderam o antigo chefe dos serviços secretos, ainda numa sexta-feira 13. Mesmo assim não adiantou nada.

Um pouco depois, o deputado João Melo do MPLA ( partido no poder), cujo pai nasceu na Lunda Norte (Tchokwe, portanto, e Melo afirma que nunca foi para lá), bateu com o pau na mesa, fez um artigo, menosprezando o sucesso do evento por considerá-lo a “reafirmação do savimbismo”. Foi um artigo ridículo, salvo quando critica, principalmente a TV que, como já esperado, deixou a desejar na sua cobertura, antes, durante e depois o Congresso.

Essa não só a minha opinião. BSSantos, comentando o segundo artigo-ataque reproduzido no portal club-net, escreveu: “Não tinha percebido até agora quem era de fato o Sr. João Melo. Sempre o julguei grande intelectual, mas acabo de perceber que estava enganado. (...) Há sempre algo a criticar, mesmo quando não encontramos nada para criticar o nosso adversário, isto é sinal de ignorância, inconformismo e estupidez agravada. (...) nascer e crescer no MPLA, fez muitos Angolanos simplesmente ignorantes e débeis mentais. O Senhor João Melo figura-se neste quadro”.

Melo ainda acha que essas reações não passam de um lixo eletrônico. Só não é lixo aquilo que ele escreve, talvez porque ele utiliza a norma “culta”. As “letras” podem servir para veicular informações e comunicar. As oligarquias usam a língua como um instrumento de dominação, principalmente quando exigem que se utilize a variedade “culta” ou “padrão” que é acessível a somente a uma pequena parcela da população de nossa sociedade complexa. Muitos acham que é lixo para tudo que estiver fora disso, principalmente quando são textos que levam as pessoas pensarem, refletirem um pouco. É bom que se saiba, que no nosso mundo não mais se seguem os modelos idealizados. Isso é adestrar, podar, neutralizar pessoas. Lixo? Até a revista de literatura Orpheu também algum dia foi considerado lixo. Os seus críticos passaram e o orpheu está vivo como nunca.

Ainda, o deputado, jornalista e escritor acha que as pessoas anônimas que comentam os seus artigos “sem nome e sem rosto, como todos os cobardes perdem literalmente o seu tempo”, ou seja, ele é contra o anonimato. Aqui ele está dizendo que "homem que é homem, mostra a cara". No caso anterior não se tratou de um comentarista anônimo.

Só para refrescar a cabeça, Melo é o deputado que certa vez disse que estava preocupado com a postura de novos ricos em Angola. Ele criticou o exibicionismo, o consumismo e a roubalheira. Ele também criticou as autoridades pelo fato de Luanda ainda não possuir plano diretor com vista o melhoramento e ordenamento de Luanda, lembram?

Tem mais. É o mesmo que defendeu a elaboração de um plano estratégico com vista ao desenvolvimento e funcionamento de comunicação social de Angola; Não para por aí. É ele que defendeu que a construção e consolidação da democracia passava pela preservação dos valores universais como a liberdade de imprensa e de expressão. É ele que disse que acreditava que era possível fazer-se uma cobertura jornalística profissional e não partidária das próximas eleições. Ainda, foi ele que afirmou certa vez que a órgãos de comunicação social públicos (Jornal de Angola, Rádio e TV) têm aberto espaços para os partidos da oposição!. É o deputado que praticamente publica ou as noticias sobre ele são difundidas pelo “Jornal de Angola”, principalmente. Talvez isso ocorre pelo fato de, em seus artigos, implicar muito com a UNITA e isso lhe permite mais dar mais visibilidade, uma espécie de "demônio de Maxwell".

Voltando ao nosso assunto. O ilustre Sousa Jamba, uma pessoa com dois hemisférios desenvolvidos, sem nenhum vestígio de insanidade mental, cujos artigos não apresentam sinais de que tenham sido escritos sob efeitos sob efeito de “porre de cerveja” ou quem sabe de “caninha 51”, o grande colunista do “semanário angolense” no seu artigo intitulado “A Unita de João de Melo” questionou a opinião do jornalista Melo. Sousa começou rebatendo ponto a ponto, numa linguagem clara e objetiva, como fazem os grandes jornalistas e escritores dos países cuja imprensa é desenvolvida.

Jamba fez jus ao nome, mostrando que ele é rei e grande conhecedor da história e literatura universal quando escreveu “João Melo acusa certos membros da Unita de certo Savimbismo semelhante a um certo Sabastianismo. João Melo pode apontar uma única pessoa na Unita que acredita que o Dr. Savimbi vai ressuscitar?”. D. Sebastião foi rei de Portugal que desapareceu quando comandava suas forças no norte da África. Por muitos anos os portugueses esperaram o retorno triunfal dele.

O trumuno estava ficando bom e num bom nível. Notem que Sousa começou a pisar no acelerador. O jogo estava 2 a 1 para Sousa. Em vez do empate, o jogo começou a ficar violento.

Entrou em campo um intruso covarde, que não mostrou a cara, que publicou o artigo intitulado “os complexos do Sousa” assinado por Mutaípi Vene. Trata-se de um artigo muito abaixo da crítica. É um lixo. Isto sim. O primeiro comentarista desse artigo reproduzido no portal club-k.net escreveu: “Esse Mutaípi Vene só fala merda” (sic..!).

Agora vamos começar a fazer acoplamentos. Os artigos de João de Melo são publicados no Jornal de Angola. Mutaípi Vene também publicou o seu artigo no Jornal de Angola.

Sempre que se sente acuado e tem forças, Melo se defende, no entanto, depois da última de Sousa, onde este deixou um monte de interrogações necessitando de respostas, o deputado se calou. Mutaípi Vene, que se apresenta como admirador dos escritos de João Melo saiu sua defesa. Saiu em defesa de pessoa que sabe e pode cuidar bem de sua barba, melhor, do seu bigode (seria Melo a admirar os escritos de Melo? Isso é complexo). Ainda ele afirma que os artigos de João Melo eram muito comentados em Luanda!. Pessoa com fome aceita qualquer comida. (O dia em que tiver acesso à Internet, ou comprar o Semanário angolense mudará de opinião).

Agora surgem algumas perguntas. Por que o leitor tinha que se meter na briga que envolve um grande? Isso não faz da nossa cultura. Ele consultou o deputado sobre essa resposta? Foi o deputado que solicitou para que ele fizesse esse artigo? Por que não foi João de Melo a responder ou foi ele que respondeu sob capa de “Mutaípi Vene”? Como o Jornal de Angola publica um “lixo” como esse? Será que a turma que acompanha com toda vivacidade os artigos do deputado se cansou de esperar um artigo resposta e, como que meio envergonhados, um deles teve a infeliz iniciativa?

Mutaípi Vene se apresenta como um Tchokwe adotivo (vamos dizer penetra). O Pai de João de Melo é Tchokwe (!), só que Melo não possui ligação com a região, como ele de sã consciência afirmou “nunca fui lá”.

Eu não vou entrar no mérito da pele de Melo como ele mesmo chegou a fazer referência num dos artigos. Vene confessou: “o complexo que me aflige é ver simplicidade onde o Souza vê complexidade”. Ainda afirmou que “também sei, que o Kota do Sousa, O Jaka, “além” de angolano, ovimbundu, não mostra complexos por aí além.”. (Num bom português, ele está afirmando que os ovimbundus são complexados. Também deixa claro que os angolanos da diáspora são complexados. Isso me chamou atenção).

Um Tchokwe adotivo! Mas a que povo ele pertence? Haveria algum complexo em informar isso? Precisou a adoção para atacar os ovimbundus, por exemplo?

Mutaípi Vene procurou se passar por uma pessoa com uma escolaridade baixa. Ele elaborou frases quase confusas e incompreensíveis ou de difícil comprensão como: “e no entanto toda a complexa imprensa tablóide do reino de estimação descomplexa nele e na Esposa actual,sem dó nem piedade,com ou sem complexo nenhum” (sic...). Analisando a forma como usa de termos, entre aspas, ponto de exclamação e sem erros ortográficos, uso de crase, essa tese cai por terra.

Esconder-se atrás de máscaras para atacar outros seres é um crime, é grave, ainda mais quando ocorre num nível tão sujo como esse. Alguns comentaristas até insinuaram que o artigo teria sido escrito pelo Deputado Melo. Não acredito que um ser tão inteligente, escritor, deputado, um intelectual, jornalista fosse capaz de melar as coisas até esse ponto. Ele poderia até dissociar a sua personalidade, mas não se candidataria a ser "cobarde" como rotulou aos outros que escondem suas identidades. Eu chego a acreditar que foi mesmo escrito por “Mutaípi Vene”. Isso é o verdadeiro retrato do atraso. Esse retrato tem nome: “complexo de Mutaípi Vene” sendo o timoneiro Mutaípi Vene a força motriz das forças do atraso.


Reproduzido pelo portal Club-k
O complexo de Mutaípi Vene - Feliciano J.R. Cangue
em 11 de Agosto de 2007 - 11:00

2 comentários:

  1. tao complexo é o assunto que fiquei complexada de tanta complexidade. força irmao feliciano cangue um beijinho amigo!!!!!

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  2. Esse Mutaípe Vene ainda nos mata de tanta complexidade. Já imaginou se esse complexo for contagioso Kota Cangue? Força meu irmao, muita paz e muito amor.

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