segunda-feira, 23 de julho de 2007

Miala é jóio ou trigo? (I)


Uma das notícias de grande destaque na imprensa nacional e internacional, desde o passado dia 13 de Julho, (sexta-feira 13), é a “prisão” do General Fernando Garcia Miala e de seus colaboradores. Ele foi, por muito tempo, diretor-geral do Serviço de Inteligência Externa (SIE). Pesa sobre ele a responsabilidade de um plano que estaria em curso, descoberto a tempo, que culminaria com um golpe de Estado e com a morte do presidente.

Fernando Miala conquistou a alta posição seguindo uma função exponencial. O seu futuro parecia estar definitivamente traçado e escrito nas estrelas. Entretanto, a ascensão de uma outra ala dentro do governo interrompeu uma carreira esplendorosamente gloriosa, "mais do que prometia a força humana".

Pouco se conhece sobre repercussão entre os membros do governo angolano da prisão do, por enquanto, general. O assunto está a ser tratado com tanto segredo como “secreto” era o agente. No entanto, a grande pergunta que se faz neste momento é a seguinte: Miala tentou dar golpe ou não? E se não, qual é o real motivo de sua destituição e por que está a ver todos os dias sol nascer quadrado?

Se nos basearmos nos motivos apresentados pela imprensa é possível argumentarmos tanto a favor quanto contra o golpe. É fácil constatarmos que todos puxam a brasa para sua sardinha, ou melhor, caviar. O fato é que, se encaminharmos a discussão aceitando esses motivos apresentados como verdadeiros, é contraproducente, pois não nos faz avançar no entendimento do real problema.

Neste momento o caminho mais seguro é nos apoiarmos na macro-metodologia acadêmica. A ciência não faz especulação. Ela trabalha com fatos e na sua ausência, com modelamento “matemático” dos fatos, uma vez que na natureza nada se cria, mas tudo se copia.

O primeiro passo seria descobrirmos onde está a verdade. Ela pode ser encontrada nas provas dos autos do processo. A prova constitui a demonstração dos fatos em que se assenta a acusação e tudo aquilo que o réu alega em sua defesa. No entanto, as informações disponíveis dão conta que Miala, o réu, teria dito que “não foi ouvido no âmbito da sindicância ao SIE ordenada pelo Presidente da República”. Sendo verdade, estamos diante de uma violação de um direito fundamental mais relevante.

Se levarmos em consideração que o processo não foi instruído por cientistas, há uma probabilidade de estar contaminada com provas ilícitas e ilegítima, seguindo a máxima: “os números não mentem, mas os mentirosos fabricam os números”. Uma outra fonte da verdade seria interrogar as pessoas envolvidas no “trumuno”. No entanto, o princípio do Direito retrata que ninguém pode produzir a prova contra si.

Ainda, quando nos remetemos a Aristóteles, de acordo com o seu projeto de busca da verdade, essa interrogação não apresentaria resultados que se sustentem. Ele encontrou limite na impossibilidade de tomar o ser enquanto objeto de estudo e colocá-lo por sobre as lentes da ciência, algo que escapa à apreensão. Consultando Heidegger, na sua discussão em busca da essência da verdade, ele concluiu que a verdade é a essência do ser e esta aparece apontar para uma parcialidade. Portanto, é impossível apreender a verdade em sua totalidade, uma vez que o próprio velar faz parte de sua estrutura.

Para Nietzsche a verdade é um ponto de vista. Por exemplo, o ponto de vista sobre o processo, o próprio Miala afirmou: "Quanto aos crimes de que sou acusado, mais parecem uma peça de fantoches em que alguém tem de ser a marioneta para dançar uma música desconhecida". Para Agostinho Neto, informar com verdade é fazer a revolução. Fazer revolução envolve movimento, mudanças, alternância do poder, enfim.

A verdade, para Freud, pai da psicanálise, é singular de cada sujeito. Para Lacan a verdade não está para ser construída, mas para ser revelada. Ela é limitada pela impossibilidade do real e de suas conseqüências. Como vimos, tanto a Filosofia quanto Psicanálise deparam-se com algo que escapa em se tratando da questão da verdade.

Poderíamos encontrar a verdade no saber. No entanto Lacan entende que o saber e a verdade não têm nenhuma relação entre si. Ele entende que a verdade é metafórica, sintomática e não-toda, já o saber remete à impossibilidade do encanto por meio da fantasia.

Jonas Savimbi talvez tenha definido a verdade como aquela voz que vem à consciência quando a pessoa se encontra só, aliada à lição aprendida na escola. Quantos escutam a voz da consciência? Hoje, porém, poucos têm o privilégio de ficarem sós. Pessoas andam com cinco seguranças. Ainda, em nossos dias, já não existem mais escolas. Quando as encontramos, elas são freqüentadas por uma minoria eleita. Escola que emburrece, que adestra adestram as pessoas.

Além disso, a escola estimula e fortalece a diferenciação social em vez da homogeneização da sociedade. É isso que afirmou Durkhein e destacou que as sociedades, em geral, utilizam-se do sistema educacional como mecanismo de conservação do sistema social existente. Ela, essencialmente, teria como função fundamental a socialização das gerações mais novas. Como estamos vendo, estamos diante de um problema muito complexo.

Assim, em relação à pergunta feita, podemos encontrar três verdades possíveis. A primeira, é que Miala tentou dar o golpe; a segunda é não tentou e a terceira, talvez.

A partir deste momento analisemos tudo à luz de artifícios científicos (modelamento matemático), tendo como hipótese: Miala não tentou dar o golpe. A metodologia utilizada é análise de informações divulgadas pela grande mídia, nomeadamente club-k, N´gola livre, Angonotícias, Multipress, uma mensagem que circula pela internet assinada por “Alguns dos Membros do clã e da “nomenklatura”, entre outras.

Vamos supor que Miala trabalhou em prol do golpe de Estado. Nesse caso ele tem que ser preso. A África tem que acabar com essa mania feia de derrubar governos à base da força, mesmo que sejam ditaduras. A maneira mais elegante de tomar o poder é pelo voto limpo, preferencialmente, lá permanecer por um mandato e no máximo dois, haja chuva ou sol, como fez até o regime militar brasileiro, por exemplo.

Precisamos também acabar com o pensamento eivado de vaidades segundo o qual o general está acima da lei e, portanto, não pode ser preso. Não é nenhuma humilhação a prisão de um general. No Paraguai, por exemplo, o ex-general Lino César Oviedo, cumpre, atualmente, uma pena de dez anos pela intentona golpista. Podemos aqui lembrar o general ditador Augusto Pinochet que ficou os últimos dias de sua vida entre a prisão e sua casa.

Por outro lado, isso serve de alerta aos governantes maratonistas que insistem em permanência no poder, mesmo sem forças para tal. Conservar-se muito tempo no poder gera sempre conspirações silenciosas. Pior que isso, é quando o mandatário passa a ser visto como um “deus” eterno com direito a seguidores (bajuladores), de uma religião oficial cujos fiéis rezam com muito fervor: Ave Presidente, santo, todo poderoso, cheio da graça, criador do céu e da terra. Coincidência ou não, o resultado disso pode ser facilmente constatado nos nomes de pessoas que são promovidas. Elas têm sempre ou quase sempre os seguintes nomes: de Deus, dos Anjos, Silva, Santos e do Espírito Santo (amén). Isso num país de mais de 850 religiões é um caso sério.

Analisando de um ângulo obtuso, a possibilidade de golpe apresenta lacunas. Por exemplo, como consentir um golpe num país onde muitos controlam a muitos para que ninguém faça aquilo que muitos gostariam de fazer? Segundo: as feridas da insurreição de Nito Alves ainda não foram curadas. Abrir outras novas? Quem é maior, Fernando Pessoa ou Vaz de Camões?

Essa possibilidade mostraria que Fernando Miala é louco. No entanto, até o presente momento, ele mantém níveis saudáveis de insanidade mental. Isso está de acordo com Descartes que afirma que não pode haver loucura na razão. Essas duas experiências são absolutamente inconciliáveis. O pensar pressupõe a razão e, como quem possui razão não pode estar louco, então a loucura é o não pensar. Ou seja, se Miala existe é porque pensa, logo se conclui que o não pensar, a loucura, não podem existir para o Miala de razão, que foi diretor geral Serviço de Inteligência Externa (SIE).

Se Miala não pensasse, por exemplo, não desapareceria o fórum de discussão da portugal.net, nos idos da década de 90. Quem não sente saudades daquelas discussões acaloradas, de um lado comandadas pelo Maka (UNITA) e do outro o Lito Capitalista (MPLA), digamos o atual Kabazuka do Club-k? Poderia citar aqui o canal de informação ebonet, pioneira em notícia comentada que depois desapareceu. Por que não falar de outros portais que publicavam artigos de opinião e de um momento não mais o fazem, exceto o heróico portal club-k.net (o canal da verdade), que por ironia do destino, hoje é que mais veicula notícias sobre ele. (Isso talvez serva de alerta para muitos).

Do exposto até aqui, devido a algumas contradições ainda encontradas, cientificamente ainda não nos permite concluir se Miala tentou o golpe ou não. Por enquanto concluímos que talvez. O importante é que nesta primeira parte conseguimos varrer a loucura para a região do não ser. Uma vez isso feito, na segunda parte faremos o modelamento, ponto a ponto, de todas as acusações que pesam sobre ele à luz do pensamento científico e tirarmos as conclusões finais, uma vez que nesta primeira parte o jogo terminou empatado.
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Reproduzido pelo Club-k.net em 04 de Agosto de 2007 - 12:50
Para ler
Vídeos de Miala

4 comentários:

  1. Aguardamos com muita ansiedade.
    Um forte abraco e sucessos
    Cesar_domingos@yahoo.com.br

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  2. O Caso Miala é motivo de muita especulação, desinformação e até meias verdades em todos os circulos angolanos. Culpa do nosso governo que não esclarece o seu povo sobre o que se passa, os reais motivos da detenção deste cidadão. Por exemplo, até hoje nenhum de nós conssegue afirmar com toda a certeza se houve mesmo ou não tentativa de golpe de estado em Angola por parte do Miala. Pergunto-me: A que se deve o silêncio sepulcral dos nossos governantes no que se refere ao << Dossier Miala >>?

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  3. Esse é um problema que o o governo se meteu e aora tem que resolver. A podridão está avir atona

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  4. Escreva em português de Angola. Escreve-se actual e atual. Chega de brasileirada em Angola!

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