Por Reginaldo Silva
A polícia angolana nasceu como CPPA, ou seja, como Corpo da Polícia Popular de Angola, já lá vão quatro décadas, tendo ao que julgo saber o seu primeiro Comandante sido um senhor chamado André Pitra (Petroff), que também pelo que sei anda por aí nas calmas, isto é, está em vida e espero que ainda a gozar da sua mais perfeita saúde, o que já não posso garantir que seja bem assim, por não dispor de informação suficiente para fazer uma tal afirmação.
Aqui ficam pelo menos os meus votos expressos para não dizerem que eu não gosto de polícias, o que é sempre um carimbo fácil de nos ser aplicado na testa.
Em abono da verdade, devo confessar que se há instituições onde tenho muitos simpatizantes declarados, a Polícia está entre elas com algum destaque, particularmente ao nível da suas patentes mais baixas, pois ao nível mais elevado, dos oficiais subalternos e superiores, não sei como é que se encontra o meu “ibope”, mas desconfio que não é igual ao outro que muito jeito me faz.
Gosto muito de utilizar este brasileirismo que significa qualquer coisa como nível de popularidade/aceitação, em homenagem ao famoso e homónimo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (mais conhecido como IBOPE), fundado em 1942, e que é uma das maiores empresas de pesquisa de mercado da América Latina.
Para sustentar minimamente a saudável provocação que dá substancia ao título desta crónica disponho, entretanto, de alguma informação sobre a Polícia Nacional (PN) que é a legítima herdeira daquela que foi fundada pelo Comandante Petroff.
São dicas que me permitem chegar a uma tal conclusão, na sequência dos trágicos e violentos acontecimentos que marcaram este ano a passagem do Dia de África entre nós, algures no Cubal/Benguela.
Depois de ter ouvido o relatório da Polícia/Ministério do Interior sobre os incidentes de Kapupa voltei a ter mais um ataque convulsivo de afro-pessimismo, tendo, quase aos soluços, chegado à conclusão que ainda não será na vigência da minha magistratura como cidadão independente e livre deste país, que verei em Angola surgir a tal Polícia Republicana (PR).
Atenção, não confundir com a GNR portuguesa, pois embora haja pontos de contactos, a Polícia que eu gostava de ver deixar definitivamente a sua actual condição de “Guarda Pretoriana” para assumir trajes mais republicanos, é mesmo a angolana.
Estamos a falar de uma corporação que tarda em servir da mesma forma toda a sociedade, ou seja, que nunca mais nos trata a todos com os mesmos critérios com base no famoso princípio constitucional da igualdade.
Alguém o viu por aí?
Sente-se esta discriminação na hora de garantir a paz e a tranquilidade que tanto precisamos de conservar, mas que agora até é posta em causa pelos barulhentos “djays” que surgem como cogumelos em todas as esquinas dos nossos bairros e nos ameaçam com seus furiosos decibéis durante horas e horas pela noite adentro.
Para esta polícia, e antes mesmo de qualquer investigação, há sempre uns que são mais do que os outros, particularmente quando a briga estala entre pessoas ligadas a diferentes partidos políticos, como ficou agora novamente comprovado nos incidentes de Kapupa.
De nada adiantou a UNITA esgrimir o argumento da legítima defesa, que qualquer legislação contempla, mesmo depois da Polícia ter confirmado (vide relatório) que estavam no terreno mais de 200 homens.
É fácil de concluir, por todo o enredo montado no local, que em principio eles estavam dispostos a tudo fazer, menos a andar aos beijinhos com a delegação chefiada pelo deputado Adalberto da Costa Júnior, como se veio a verificar durante a terrível batalha campal que teve como palco a remota localidade do sertão benguelense.
Diante tudo o que se passou, o político hoje se calhar ainda não percebe muito bem como é que está vivo ou como é que conseguiu escapar ileso daquele ataque.
Diante de todas as evidências, ainda ouvimos o relator da Polícia confirmar que os efectivos da corporação que garantiam no local a segurança da delegação da UNITA se recusaram a defender os seus protegidos.
Um tal asseguramento, considerando que o “filme” era realmente violento em todas as dimensões, só podia ser feito com a utilização das armas que possuíam o que eles recusaram sob um pretexto que ninguém percebe muito bem, quando está a ser atacado por dezenas de homens enfurecidos e armados de azagaias, mocas e catanas.
Então, conclui-se, que a melhor solução para a Polícia talvez fosse a delegação da UNITA deixar-se alegremente massacrar no terreno e depois apuravam-se os factos e responsabilizavam-se os agressores pois aí já não haveria qualquer dúvida na identificação dos criminosos.
Mesmo assim, se calhar, as coisas não seriam tão líquidas, pois vivemos num país onde determinado tipo de culpa já tem a tradição de morrer solteira…
O meu ataque de afro-pessimismo só não foi até às últimas consequências porque de repente comecei a ouvir na televisão o presidente Eduardo dos Santos a fazer umas “revelações” estranhas mas algo animadoras para o meu deprimente estado psicológico.
O problema destas “revelações”, quando JES aconselha as pessoas a recorrerem às autoridades evitando fazer justiça por conta própria, é que elas chocam exactamente com o comportamento demissionário que a Polícia teve em Kapupa diante de um ataque que iria, certamente, dar cabo de todos os direitos das pessoas da UNITA que estavam a ser atacadas.
O que JES não disse, é o que é que os cidadãos devem fazer quando, pressentindo o risco da agressão, pedem ajuda da polícia e esta lhes vira as costas, deixando-os entregues à sua própria sorte, diante do perigo eminente de virem a ser trucidados por uma turba ululante.
Tudo o resto só pode ter sido consequência, por mais que agora a “central da manipulação”, utilizando todos os espaços disponíveis, se queira agarrar às descontextualizadas declarações da senhora da UNITA, por ter falado em bassulas e em desarmar polícias, quando contava aos seus correligionários como as coisas se tinham passado no Dia de África.
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