quarta-feira, 4 de abril de 2012

A presença de um albino no banco foi apontada por alguns como responsável pela derrota do Kabuscop




Não é para fazer rir a ninguém. É, no mínimo, para fazer chorar. Esta notícia mostra claramente onde nós estamos, como sociedade, em termo de crenças. O assunto ainda está a render conversa.

Normalmente quando uma equipe perde evoca sempre aquelas tradicionais desculpas: O árbitro roubou ou teve má atuação, o campo estava em más condições ou ainda, não muito frequente, a chuva ou vento, a posição do sol, calor, assim por diante.

Angola inovou nas desculpas. O problema é que a referida inovação é muito perigosa porque põe em risco a integridade física dos albinos. Albinismo é um distúrbio congênito caracterizado pela ausência completa ou parcial de pigmento na pele, cabelos e olhos, devido à ausência ou defeito de uma enzima envolvida na produção de melanina.

Em jogo a contar para quarta ou quinta jornada do campeonato nacional de futebol da primeira Divisão, no sábado passado portanto, o Kabuscorp de Palanca (Luanda), equipe do brasileiro Rivaldo, atual vice-campeão e forte candidato ao título, recebeu na capital a equipe do interior do Kwanza Sul o Recreativo do Libolo, o atual campeão. A partida tinha todos ingredientes para ser o jogo da rodada. No fim da partida os visitantes venceram por 2 a 1 (golo de Rivaldo convertendo a grande penalidade).

A partida, no entanto, foi marcada por uma cena por muitos considerada "sobrenatural". Um dos funcionários, o roupeiro, da equipe visitante é albino. Depois de cumprir com suas obrigações resolveu também sentar-se no banco reservado à equipe técnica e jogadores suplentes.

Entretanto, a presença do albino no banco de suplente suscitou algazarra nos dirigentes e torcida do Kabuscorp do Palanca, que alegaram "se tratar de um elemento estranho ligado às forças ocultas" (feitiçaria).

A situação chegou a ponto tal que com ajuda da Polícia o jovem albino (quilombo) teve de ser retirado do banco de reserva.

Mesmo com a saída do jovem albino o Kabuscorp de Bento Kangamba (o empresário da Juventude, como é conhecido) teve que amargar mais uma derrota.

Vale lembrar que os adeptos do Kabuscorp são essencialmente de Palanca, bairro habitado pelos angolanos maioritariamente que viveram nas Repúblicas do Congos, carinhosamente tratados de "Langas", por se expressarem fluente e insistentemente em Lingala. No geral são pessoas muito ligadas às tradições africanas, o que é bom, mas que a parte "mística" também está muito presente no seu dia a dia.

Atualmente países como Tanzânia (que possui uma população de albinos estimada em 200 mil), Burindi etc. têm registrado a mortes de inúmeros albinos. Muitos utilizam partes de seus corpos (as pernas cortadas e vendidas a praticantes de magia negra, por exemplo) por acreditarem ter poderes especiais que podem trazer sorte e riqueza e para serem usadas em atos de feitiçaria.

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