Potencialmente rico em recursos hídricos, Angola é, paradoxalmente, um país pobre em energia eléctrica, por subaproveitamento dos enormes cursos de água de que dispõe.
Em matéria de electricidade, o nosso país é um caso típico daqueles Estados africanos em que nem sempre a fartura é sinónimo de bem estar e de prosperidade para as comunidades. Angola, sobretudo a sua capital, vive, de uns tempos a esta parte, um dos períodos mais críticos da falta não só de energia eléctrica, como também de água; crises cíclicas que, não obstante os esforços do Executivo, parecem não ter solução, a curto ou médio prazo.
Os argumentos de que a guerra era responsável pelos sistemáticos «apagões» e falhas no fornecimento de energia eléctrica já não colhem, visto que Angola alcançou a paz há cerca de dez anos, mas os problemas persistem, sobretudo nesta fase do ano.
Desde 2002 que não se tem notícia da destruição de mais infra-estruturas à conta da rebelião armada, pelo que não devem existir razões de peso que justifiquem os constantes cortes nos fornecimentos, tanto de luz como de água.
É um facto que a guerra deixou marcas e uma pesada factura para o país, cuja recuperação económica e social poderá ainda levar muitos anos.
Mas, em socorro da verdade, Angola não pode continuar eternamente «refém» do passado, como se a guerra servisse para justificar todas as práticas incorrectas, como, por exemplo, a má governação, as insuficiências, incapacidades e negligências de uns quantos gestores públicos. São cada vez mais frequentes as vozes que questionam acerca da viabilidade dos investimentos feitos em torno das barragens, sobretudo nos períodos em que Luanda e outras localidades do país ficam dias, semanas ou mesmo meses mergulhadas na escuridão total.
É, provavelmente, na escuridão que aos ouvidos de muitos angolanos soa ainda a propaganda feita durante o tempo da guerra de que Angola seria uma potência energética em África, após a conclusão da barragem de Capanda. Dizia-se então que ela teria capacidade para alimentar todo o país e, inclusive, exportar energia para alguns Estados vizinhos.
Com a conclusão dessa imponente obra nos últimos anos, constatou-se que, afinal, a hidroeléctrica sequer é capaz hoje de cobrir as necessidades domésticas de Malanje, Luanda ou dos arredores destas cidades, tampouco existe potencial para iluminar as ruas ou pracetas de países vizinhos, por mais pequenas que estas sejam.
O sector da energia eléctrica é, sem dúvida, um dos que pior desempenho tem vindo a ter, com a agravante de os meios alternativos alardeados pelos seus responsáveis mostraremse cada vez mais ineficazes para cobrir os sistemáticos «apagões».
Com alguma frequência, os responsáveis desse pelouro vêm a terreiro afirmar que o país, particularmente Luanda, dispõe de fontes térmicas para cobrir, no mínimo, mais de 50% das necessidades. Acontece, porém, que isto não corresponde à verdade, e os luandenses já deixaram mesmo de acreditar no que eles afirmam de boca cheia.
Uma prova de que os citadinos deixaram de confiar na rede pública de fornecimento de electricidade pode ser aferida pela corrida crescente aos postos de venda de combustíveis ou, ainda, pelo incremento da compra de geradores, com todos os riscos que isto acarreta para a segurança das famílias. ■
Fonte: SA, EDIÇÃO 443 · ANO VII, Sábado, 26 de Novembro de 2011.
Isto é temporário pois o crescimento económico e uma realidade.
ResponderExcluirO futuro nos dirá. Tomara que seja
ResponderExcluir