O Papa Bento XVI chegou hoje, às 12h40 em Luanda para uma visita de três dias ao país, para comemorar os 500 anos da evangelização de Angola. Angola é o primeiro país da África austral onde chegaram os missionários católicos.
O Papa Bento XVI considerou essencial para uma “democracia civil moderna” o “respeito e promoção dos Direitos Humanos”, um “Governo transparente”, uma “magistratura independente”, uma comunicação social “livre” e “acabar de uma vez por todas com a corrupção”. (Alto Hama). "Infelizmente, dentro dos limites de Angola, ainda há muitas pessoas pobres pedindo que seus direitos sejam respeitados", declarou o Papa.
O Papa, entre outras atividades, se encontrou com os bispos locais e fez um discurso ao corpo diplomático creditado em Angola que é reporduzido a seguir:
Senhor Presidente da República,
Distintas Autoridades,
Ilustres Embaixadores,
Venerados Irmãos no Episcopado,
Senhoras e Senhores!
Num amável gesto de hospitalidade, quis o Senhor Presidente nos acolher em sua residência, dando-me a alegria de poder vos encontrar, saudar e vos desejar os melhores êxitos na condução das importantes responsabilidades que cada um de vós assume no âmbito governamental, seja civil ou diplomático, onde cada um serve a própria nação em vista do bem de toda família humana.
Senhor Presidente, obrigado por esta acolhida e pelas palavras que acabais de me dirigir, cheias de consideração pela pessoa do Sucessor de Pedro e de confiança na ação da Igreja Católica em favor desta nação muito amada.
Meus amigos, vós sois artesãos e testemunhas de uma Angola que se levanta. Após vinte e sete anos de guerra civil que devastou o país, a paz começou a se enraizar, trazendo consigo os frutos da estabilidade e da liberdade. Os esforços palpáveis do Governo para estabelecer as infra-estruturas e recriar as instituições indispensáveis ao desenvolvimento e bem-estar da sociedade fizeram voltar a esperança entre os cidadãos. Para sustentar esta esperança, têm concorrido várias iniciativas de agências internacionais, decididas a transcender interesses particulares para trabalhar na perspectiva do bem comum. Nas diversas regiões do país, não faltam os exemplos de professores, agentes da saúde e funcionários públicos que, em troca de um magro salário, servem com integridade e dedicação as respectivas comunidades humanas às quais pertencem. Aumenta o número de pessoas engajadas em atividades voluntárias para prestar os serviços mais necessários Queira Deus abençoar e multiplicar todas estas boas vontades e iniciativas ao serviço do bem!
Angola sabe que chegou para a África o tempo da esperança. Cada comportamento humano reto é esperança em ação. Nossas ações jamais são indiferentes a Deus; e também não o são para o progresso da história. Meus amigos, com um coração íntegro, magnânimo e cheio de compaixão, podereis transformar este continente, libertando o vosso povo do flagelo da avidez, da violência e da desordem e guiando-o pelo caminho indicado por princípios indispensáveis a qualquer democracia civil moderna: o respeito e a promoção dos direitos humanos, um governo transparente, uma magistratura independente, uma comunicação social livre, uma administração pública honesta, uma rede de escolas e de hospitais que funcionem de modo adequado, e a firme determinação, radicada na conversão dos corações, de acabar de uma vez por todas com a corrupção. Na Mensagem deste ano para o Dia Mundial da Paz, quis chamar a atenção de todos para a necessidade de uma atitude ética do desenvolvimento. De fato, mais do que simples programas e protocolos, os habitantes deste continente pedem com razão, uma conversão autêntica, profunda e duradoura dos corações à fraternidade (cf. n. 13).Sua exigência aos que trabalham na política, na administração pública, nas agências internacionais e nas companhias multinacionais é sobretudo esta: permanecei ao nosso lado de modo verdadeiramente humano, acompanhai-nos as nós, às nossas famílias e comunidades.
O desenvolvimento econômico e social da África requer a coordenação das ações governamentais nacionais com as iniciativas regionais e com as decisões internacionais. Uma tal coordenação supõe que as nações africanas não sejam apenas consideradas como destinatárias dos planos e soluções elaborados por outros. Os próprios africanos, trabalhando juntos para o bem das suas comunidades, devem ser os agentes primários do seu desenvolvimento. A tal propósito, existe um número crescente de eficazes iniciativas que merecem ser sustentadas. Contam-se entre elas a New Partnership for Africa’s Development (NEPAD) e o Pacto para a segurança, a estabilidade e o desenvolvimento na Região dos Grandes Lagos, juntamente com o Kimberley Process, a Publish What You Pay Coalition e a Extractive Industries Transparency Iniziative, que promovem a transparência, o exercício comercial honesto e o bom governo. Quanto à comunidade internacional no seu todo, é de urgente importância a coordenação dos esforços para enfrentar a questão das alterações climáticas, a realização plena e honesta dos compromissos em prol do desenvolvimento indicados pelo Doha round e, de igual forma, a realização desta promessa muitas vezes repetida pelos países desenvolvidos: destinarem 0,7% do seu PIB (produto interno bruto) para ajudas oficiais ao desenvolvimento. Esta assistência é ainda mais necessária hoje com a tempestade financeira mundial em curso; que ela não seja mais uma das suas vítimas.
Amigos, concluo minha reflexão confidenciando que esta minha visita a Camarões e a Angola suscita em mim aquela alegria humana profunda que se sente ao voltar a casa, ao seio da família. Creio que a mesma experiência é o dom comum que a África faz a quantos vêm de outros continentes aqui, onde «a família representa a base sobre a qual está construído o edifício da sociedade» (Ecclesia in Africa, 80).
Entretanto, como todos sabem, também aqui se abatem numerosas pressões sobre as famílias: angústia e humilhação causadas pela pobreza, desemprego, doença, exílio para mencionar apenas algumas. Particularmente inquietante é o jugo opressivo da discriminação que pesa sobre mulheres e moças, para não falar daquela prática inqualificável que é a violência e exploração sexual que lhes causa tantas humilhações e traumas. Devo ainda referir uma nova área de grave preocupação: as políticas daqueles que, com a ilusão de fazer crescer o «edifício social», estão ameaçando os seus próprios alicerces. Que amarga é a ironia daqueles que promovem o aborto como um dos cuidados de saúde «materna»! Como é desconcertante a tese de quantos defendem a supressão da vida como uma questão de saúde reprodutiva (cf. Protocolo de Maputo, art. 14)!
Senhoras e Senhores, encontrareis sempre a Igreja – por vontade do seu divino Fundador – ao lado dos mais pobres deste continente. Posso assegurar-vos que ela, através de iniciativas diocesanas e inumeráveis obras educativas, de saúde e sociais das diversas ordens religiosas, continuará a fazer tudo o possível para apoiar as famílias, nomeadamente feridas pelos trágicos efeitos da AIDS, e promover a igual dignidade de homens e mulheres com base em uma harmoniosa complementaridade. O caminho espiritual do cristão é o da conversão diária. A Igreja convida todos os líderes da humanidade a tomar esse caminho, para que esta última possa trilhar as sendas da verdade, da integridade, do respeito e da solidariedade.
Senhor Presidente, desejo reiterar-lhe a minha viva gratidão pelo acolhimento que nos ofereceu em sua casa. Agradeço a todos e cada um de vós pela amável presença e escuta atenta. Contai com as minhas orações por vós e vossas famílias e por todos os habitantes desta África maravilhosa. O Deus do Céu vos seja propício e a todos abençoe!