Aumento do calor em Angola faz sertão começar a virar mar
Reportagem exibida no programa "Fantástico" da Rede Globo de Televisão.(28/12/2008)
Reportagem exibida no programa "Fantástico" da Rede Globo de Televisão.(28/12/2008)
Vídeo: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM941690-7823-SERTAO+ESTA+VIRANDO+MAR+EM+ANGOLA,00.html
Temperatura: 42 graus. Por isso, pintar o corpo não é mais só uma tradição entre os muimbas [mumuilas], uma das maiores tribos que vivem no deserto angolano. Agora, é necessidade. Serve também para proteger do sol.
Eles explicam que o calor aumentou nos últimos anos. Seria um reflexo das mudanças climáticas no mundo? É o que pesquisadores tentam descobrir. O certo é que a elevação do nível do mar está provocando um fenômeno em Angola. O destino da equipe do Fantástico é a Baía dos Tigres - um lugar que começou, literalmente, a desaparecer do mapa. Para chegar até lá - de carro e pelo litoral - o planejamento é minucioso. É preciso vencer a natureza: vencer a maré alta. O pescador Rogério Cunha vive em Namibe e será o guia. Pela internet, ele descobre que no dia seguinte, às 8h34, o mar irá atingir o nível mais baixo da semana.
"Nós temos que sair às 2h30 da madrugada para entrarmos na zona de risco às 5h30 e temos três horas para fazermos o percurso de risco.
São três caminhonetes com tração nas quatro rodas. Todas carregadas de combustível, alimentos, barracas e muita água. Logo no começo da viagem, a primeira parada. Esvaziamos um pouco os pneus, pra ficar mais fácil andar na areia.
Minutos depois, o imprevisto. Como estava muito murcho, o pneu de um dos carros se soltou. Tentamos ganhar tempo, acelerando. Na escuridão, não dá para ver o mar, mas ele está bem perto. São milhares de caranguejos.
Quando amanhece, a paisagem muda de cor e revela o perigo. Depois de quatro horas de viagem, chegamos ao início do ponto mais crítico. É um corredor - de um lado estão dunas bem altas e do outro, muita água do Oceano Atlântico. Só é possível passar pelo local, quando a maré está bem baixa.
De helicóptero, a imagem mostra bem que o corredor de areia quase não existe mais, espremido entre o deserto e o mar. Os angolanos dizem que o acesso por terra sempre foi difícil, mas piorou nas últimas décadas.
No trecho mais problemático, mesmo com maré baixa, a passagem é quase impossível. Nessa área de risco, onde quase ninguém vai mais, aves e golfinhos encontraram refúgio.
Desse local, dá para ver a Baía dos Tigres. Antes, o local tinha uma ligação de areia com o continente. Com a subida do mar, o caminho desapareceu e a Baía virou uma ilha: a Ilha dos Tigres.
A falta de acesso deixou a cidade abandonada. A areia invadiu galpões de pesca, casas, hospital, delegacia e igreja.
Pela primeira vez, uma equipe de televisão visita a ilha. Só três policiais ainda vivem no local. Passam 90 dias, até aparecer a rendição. Água e remédios são levados do continente de barco. O problema maior mesmo é vencer o calor, os ventos fortes e a solidão.
“A nossa vida é dar umas voltas em todo o território da baia. Se eu gosto? Sim, é o serviço“, diz Buta Costa Prata, chefe dos policiais.
Os portugueses colonizaram a terra. Os angolanos que também viviam no local deixaram a diferença que existia entre eles.
É uma longa caminhada. Quando chegamos ao cemitério dos brancos, vemos que a areia já tomou conta de quase toda parte. Em um trecho, por exemplo, ela já chegou à altura do muro. O que aparece um pouco mais aqui é só uma capela.
Do outro lado, quase engolido pela areia, está o cemitério dos negros.
“Para mim, é uma historia triste, porque todos estão no mesmo sítio e lá no fundo”, diz o policial Jorge Vasconcelos.
Os vigias temem que essa parte da história desapareça junto com a Ilha dos Tigres. No local, acreditam eles, o aquecimento global, o derretimento das geleiras e a elevação do nível do mar podem ter conseqüências imediatas.
Por isso, propõem que o lugar seja aberto à visitação, antes que seja tarde demais.
"É um lugar de lazer e um lugar bonito mesmo. É um paraíso, conforme a gente vê," declara Buta Costa Prata.
Para o biólogo Agostinho Silva, preservar a natureza é mais do que evitar o fim da história de povos e de lugares angolanos: é uma obrigação de todos. “De um modo geral, o mundo ganha, porque é uma parte do mundo que fica preservada. Claro, quando isso acontece, são os poucos os problemas no ambiente", afirma.
Imagens: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM941690-7823-SERTAO+ESTA+VIRANDO+MAR+EM+ANGOLA,00.html
Fonte: Globo.com
Temperatura: 42 graus. Por isso, pintar o corpo não é mais só uma tradição entre os muimbas [mumuilas], uma das maiores tribos que vivem no deserto angolano. Agora, é necessidade. Serve também para proteger do sol.
Eles explicam que o calor aumentou nos últimos anos. Seria um reflexo das mudanças climáticas no mundo? É o que pesquisadores tentam descobrir. O certo é que a elevação do nível do mar está provocando um fenômeno em Angola. O destino da equipe do Fantástico é a Baía dos Tigres - um lugar que começou, literalmente, a desaparecer do mapa. Para chegar até lá - de carro e pelo litoral - o planejamento é minucioso. É preciso vencer a natureza: vencer a maré alta. O pescador Rogério Cunha vive em Namibe e será o guia. Pela internet, ele descobre que no dia seguinte, às 8h34, o mar irá atingir o nível mais baixo da semana.
"Nós temos que sair às 2h30 da madrugada para entrarmos na zona de risco às 5h30 e temos três horas para fazermos o percurso de risco.
São três caminhonetes com tração nas quatro rodas. Todas carregadas de combustível, alimentos, barracas e muita água. Logo no começo da viagem, a primeira parada. Esvaziamos um pouco os pneus, pra ficar mais fácil andar na areia.
Minutos depois, o imprevisto. Como estava muito murcho, o pneu de um dos carros se soltou. Tentamos ganhar tempo, acelerando. Na escuridão, não dá para ver o mar, mas ele está bem perto. São milhares de caranguejos.
Quando amanhece, a paisagem muda de cor e revela o perigo. Depois de quatro horas de viagem, chegamos ao início do ponto mais crítico. É um corredor - de um lado estão dunas bem altas e do outro, muita água do Oceano Atlântico. Só é possível passar pelo local, quando a maré está bem baixa.
De helicóptero, a imagem mostra bem que o corredor de areia quase não existe mais, espremido entre o deserto e o mar. Os angolanos dizem que o acesso por terra sempre foi difícil, mas piorou nas últimas décadas.
No trecho mais problemático, mesmo com maré baixa, a passagem é quase impossível. Nessa área de risco, onde quase ninguém vai mais, aves e golfinhos encontraram refúgio.
Desse local, dá para ver a Baía dos Tigres. Antes, o local tinha uma ligação de areia com o continente. Com a subida do mar, o caminho desapareceu e a Baía virou uma ilha: a Ilha dos Tigres.
A falta de acesso deixou a cidade abandonada. A areia invadiu galpões de pesca, casas, hospital, delegacia e igreja.
Pela primeira vez, uma equipe de televisão visita a ilha. Só três policiais ainda vivem no local. Passam 90 dias, até aparecer a rendição. Água e remédios são levados do continente de barco. O problema maior mesmo é vencer o calor, os ventos fortes e a solidão.
“A nossa vida é dar umas voltas em todo o território da baia. Se eu gosto? Sim, é o serviço“, diz Buta Costa Prata, chefe dos policiais.
Os portugueses colonizaram a terra. Os angolanos que também viviam no local deixaram a diferença que existia entre eles.
É uma longa caminhada. Quando chegamos ao cemitério dos brancos, vemos que a areia já tomou conta de quase toda parte. Em um trecho, por exemplo, ela já chegou à altura do muro. O que aparece um pouco mais aqui é só uma capela.
Do outro lado, quase engolido pela areia, está o cemitério dos negros.
“Para mim, é uma historia triste, porque todos estão no mesmo sítio e lá no fundo”, diz o policial Jorge Vasconcelos.
Os vigias temem que essa parte da história desapareça junto com a Ilha dos Tigres. No local, acreditam eles, o aquecimento global, o derretimento das geleiras e a elevação do nível do mar podem ter conseqüências imediatas.
Por isso, propõem que o lugar seja aberto à visitação, antes que seja tarde demais.
"É um lugar de lazer e um lugar bonito mesmo. É um paraíso, conforme a gente vê," declara Buta Costa Prata.
Para o biólogo Agostinho Silva, preservar a natureza é mais do que evitar o fim da história de povos e de lugares angolanos: é uma obrigação de todos. “De um modo geral, o mundo ganha, porque é uma parte do mundo que fica preservada. Claro, quando isso acontece, são os poucos os problemas no ambiente", afirma.
Imagens: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM941690-7823-SERTAO+ESTA+VIRANDO+MAR+EM+ANGOLA,00.html
Fonte: Globo.com
Muito triste. Mas enquanto para quem dirige, Angola for apenas Luanda continuaremos a ver o degradar da "Paisagem". Será que é segredo para eles que a tendência do deserto é avançar? Tantas idas ao Dubai, ainda não deu para pensarem(muito difícil para muitos)em revitalizarem o Namibe?
ResponderExcluirQue 2009 ponha certas cabeças a "funcionar" para o bem comum...