Crônica sobre Angola do cantor brasileiro Netinho, que se popularizou com canções como "Menina" e "Mila". Há poucos dias o cantor Bob Geldof afirmou que Angola era governada por criminosos.
Ernesto de Souza Andrade Jr. (Cantor brasileiro Netinho)
Estive na África alguns anos atrás para fazer dois shows em Angola. Fomos contratados pelo governo angolano. Dessa vez voltei ao continente para um show na Ilha de São Vicente, no arquipélago de Cabo Verde. Fomos contratados pela Câmara Municipal de São Vicente.
Muitas diferenças eu vi nessas duas viagens
Quando estive em Angola fui surpreendido pela imagem cruel de um país récem-saído de uma guerra civil que durara 26 anos (de 1961 até 2002). Luanda, onde fiquei hospedado, se revelou uma cidade destruída, falida e miserável. Havia o centro, um pouco mais arrumado, mas só isso. Do 7º andar do hotel eu via uma cidade em ruínas. Era quase uma paisagem em preto e branco.
Caminhando pelas ruas eu via a pobreza ímpar. Muitos pedintes, a maioria amputada devido o contato com minas enterradas no solo angolano durante a guerra. Uma tristeza. Não se via sinal de alegria, não vi sorriso nos rostos. Ainda lá, me informei sobre o país.
Angola, país rico em petróleo e diamantes, tinha também um dos maiores índices de corrupção do mundo. Era o segundo ou terceiro país mais corrupto do mundo na época.
Agora some isso a um país vítima de uma guerra civil de quase três décadas com infra-estrutura administrativa e social zero... O caos!
No segundo dia lá em Luanda eu saí de carro e fui até uma zona distante do centro em busca de esculturas de madeira para comprar. Meio perdido, encontrei algo em que foi difícil acreditar. Parecia um oásis em meio a um deserto. No alto de uma colina eu dei de cara com uns condomínios fechados semelhantes àqueles condomínios tops de Miami. Tudo muito colorido, mansões de luxo cercadas por um rico e vistoso paisagismo. Só fui entender quando retornei ao hotel e me informei. Ali moravam os caras do governo, do petróleo e dos diamantes.
“Em Angola, desaparece um em cada quatro dólares” ganho com o petróleo, segundo a organização não-governamental Global Witness. “Ao mesmo tempo, uma em cada quatro crianças angolanas morre antes dos 5 anos, devido a doenças que podem ser prevenidas”.A GW considera que “não há exemplo mais severo dos efeitos devastadores do desvio de receitas e da corrupção estatal do que o de Angola”. A Global Witness é uma ONG, com sede em Londres e Washington, que há quase 15 anos luta pela transparência na gestão dos recursos naturais, para a campanha internacional "Publique o que se Paga", e tem mantido contactos com o Governo de Luanda com vista à integração de Angola nos mecanismos de controlo previstos pela Iniciativa para a Transparência nas Indústrias Extractivas.
Num dos shows que fiz em Luanda, notei que a violência e a opressão policial imperavam por lá. Houve um momento em que vi um policial espancar com um cacetete um angolano que tentava se aproximar do palco. O cara estava sangrando na cabeça devido aos golpes. Parei o show e pedi ao policial que parasse. Na mesma hora um dos contratantes me chamou no fundo do palco e me disse que era para eu continuar o show, que eu não sabia como as coisas funcionavam ali e que seria bem pior se eu parasse. No calor e na incompreensão da situação, continuei o show.
Saí de Angola com essa triste impressão que se evidenciou até na nossa entrada no país quando os fiscais do aeroporto de Luanda nos pediram dinheiro para liberar as nossas malas. Não sei como Luanda está hoje.
Já nesta recente viagem a Cabo Verde, outra idéia da África se formou em minha cabeça. Conheço um pouco da história africana; dos efeitos da colonização européia; do Apartheid e da luta de Mandela; e da influência dos africanos vindos como escravos para o Brasil Colônia. Entretanto, gosto de tirar a minha idéia pessoal sobre o que vivo e vejo. E o que vi pessoalmente até então da África foi Angola e Cabo Verde. Sei que o continente africano é muito mais que isso mas traço aqui o meu paralelo entre esses dois países.
A minha experiência em Cabo Verde foi bem diferente da que vivi em Angola. Havia sorriso nos rostos e não era a miséria que dava o tom da paisagem. Havia pobreza sim, mas em um grau bastante inferior ao angolano. Havia segurança nas ruas e à primeira vista o abismo entre ricos e pobres era também bem menor. Por ser destino turístico, havia muitos caboverdeanos trabalhando em setores ligados ao turismo. Há lá muitos hotéis, restaurantes, cyber cafés, táxis, festivais e eventos de arte e música, etc. Numa boa conversa com a presidente da Câmara Municipal da Ilha São Vicente, Isaura Gomes, descobri que o povo do país ama a música e gosta de festa (...).
Fonte: Netinho Blog (08/08/07)
Além de ter gostado bastante de outros artigos, gostei muito da opinião do Netinho sobre Cabo Verde. Não conheço Angola, mas estive uns dias no Mindelo e fiquei apaixonada pela terra e pelas gentes. Simpáticos e alegres, um povo orgulhoso e não cabisbaixo. Estive no Festival da Baía das Gatas e fiquei pasmada com os excelentes músicos que existem por lá. A noite do Mindelo é fascinante com música em todo o lado. Só tenho pena que as viagens sejam tão caras!
ResponderExcluirUm abraço e parabéns pelo blogue.
Prezada leitora,
ResponderExcluirFico feliz por ter gostado o presente blog e, principalmente, por ter deixado sua opinião. Visitei os sue str~es blogs que por sinal são muitos lindos e com muitos conteúdos. Sucessos