terça-feira, 30 de outubro de 2007

Coisas do Brasil






















Um indivíduo de Porto Alegre, Sul do país, casa-se com alguém de Manaus, norte do país e vão morar, por exemplo, em Vitória, no sudeste do país. Lá eles levam a vida normal. Assumem cargos de toda natureza, desde que tenham preparo para tal, sem que sofram qualquer discriminação de nenhuma natureza. Não há nenhum Estado da federação com preferência para que originários desses lugares ocupem cargos nas embaixadas, ministérios, ser embaixadores, cônsules etc. Coisas do Brasil.

Salvador foi a primeira Capital. Os soteropolitanos (“sotero”, do latim significa salvador) consideravam-se mais brasileiros que os outros. Depois, a capital foi transferida ao Rio de Janeiro. Os cariocas também se sentiam mais brasileiros que os outros. Depois, São Paulo, a maior economia brasileira, começou a reivindicar a capital. Juscelino Kubitschek (JK), mineiro, mandou construir a nova capital. Brasília foi construída em local neutro, bem no coração do país. Hoje a Brasília é a capital de todos os brasileiros. Nos fins de semana o local transforma-se num deserto porque os moradores viajam aos seus estados (províncias). Coisas do Brasil.

Há dois anos atrás, uma minha amiga que é militante do Partido dos Trabalhadores (PT), de Lula, casou-se com um também meu amigo, militante do PSDB, tucano portanto, de Fernando Henrique Cardoso, o maior partido da oposição. Cada um convidou seus correligionários. Nas últimas eleições presidenciais, ambos saíram com roupas que combinavam com cores do partido de cada um. Foram juntos até o local de votação. Cada um votou no seu candidato. A noite, o marido convidou a esposa para comemorar a vitória do operário Lula. Ninguém os discriminou até hoje. Isso para não falar do chefe de uma empresa, que era flamenguista, com traços orientais, baixo, mulçumano e petista que promoveu um vascaíno, negro, alto, cristão e tucano. Hoje em dia eles viajam juntos para todos os lados. Coisas do Brasil.

Há poucos dias o andarilho, Ângelo de Jesus de 37 anos, trajando uma camiseta, calça jeans e chinelo de dedo, foi até Brasília para conversar com o presidente Lula!. Chegando ao Palácio, tentou driblar a segurança para adentrar no palácio. Foi dominado pela segurança. No dia seguinte, depois que a notícia foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação, Lula o recebeu e ainda pagou as passagens de regresso para sua cidade. Coisas do Brasil.

Quando ocupou a presidência, o presidente da República, o Engenheiro Itamar Franco e a namorada resolveram ir ao cinema para assistir ao filme que na época era campeão de bilheteria. Postos lá, compraram ingressos. Só que aquela sessão estava superlotada. (as sessões são contínuas. Termina uma, começa outra. Isso permite que o indivíduo assista quantas vezes quiser o mesmo filme). Tentaram entrar assim mesmo. Foram barrados pela segurança do cinema. – podemos sentar mesmo no chão, não tem problemas – Não!. Não havendo mesmo condições, depois de algum tempo, os dois, tristemente, pegaram o carro retornaram ao Palácio. Coisas do Brasil.

O presidente Lula quando eleito, ainda no primeiro mandato, nomeou para o cargo do Banco Central Henrique Meirelles, e continua até hoje. O Engenheiro com MBA tinha sido eleito deputado, mas pelo maior partido da oposição, o PSDB. O Ex-presidente do banco Mundial do BankBoston era o brasileiro que naquele momento mais preparo possuia para ocupar aquele cargo. Entre nomear um presidente do Banco Central medíocre, mas do seu partido ou nomear profissional competente, mas brasileiro do partido da oposição, Lula preferiu a segunda opção. Coisas do Brasil.

Numa de suas opiniões o cineasta e jornalista Arnaldo Jabor, referindo-se ao governo do presidente Lula, só para citar um dos casos, afirmou: “A quadrilha montada pelos bolchevistas com o consentimento de Lula, o aparelhamento do Estado com 40 mil enfiados nas brechas da República, o montante de grana desviado...” Resumindo: ele estava querendo dizer que estavam vendendo o país aos estrangeiros. E não foi preso até hoje. Coisas do Brasil.

Há poucos anos estive no Paraguay, acompanhado de amigos brasileiros. Isso aconteceu no mês de novembro, quando o Brasil comemora o aniversário da proclamação da República. Os estudantes, a grande maioria militantes do PT, partido no poder, organizaram uma festinha. Para minha surpresa convidaram também a todos os brasileiros até os do PSDB. Todos pularam, sambaram e às duas horas da madrugada cada um foi para o seu canto. No dia seguinte todos se cruzavam pelas ruas, se saudavam e ficou nisso. Coisas do Brasil.

Ainda, no dia seguinte, meus colegas acompanharam-me até o consulado, na Ciudad del Este, para renovar visto de um conterrâneo. Uns estavam com bonés do PT, outros com do PSDB, outros PMDB e eu com o boné "negro-alviverde" que ganhei de um jogador da equipe do Sagrada Esperança, da Lunda Norte, muito tempo atrás e o guardo com muito carinho. O funcionário do consulado abraçou a todos. Convidou-nos para um lanche. Tudo acabou em gargalhadas. Coisas do Brasil.

Isso não entrou na minha cabeça. Convidei o funcionário do Consulado no canto para uma conversa. Eu pedi desculpas pelo atrevimento. Disse-lhe que eles estavam errados. Ele procurou saber por quê? Eu disse-lhe que jovens de partidos da oposição não deveriam recebidos naquele ambiente festivo. Vocês deveriam orientar os jovens para que se afastassem dos da oposição. Eles podem ser contaminados. Ele me abraçou, sorriu e calmamente começou falando:

- amigo, nós somos brasileiros. Nós somos tolerantes, solidários e cultivamos o bom relacionamento entre as pessoas. No curso de diplomacia, lá no Instituto Rio Branco, aprendemos que o desenvolvimento do nosso país depende do capital humano que é consolidado na capacidade e no bom senso. Em segundo, nós representamos a nação brasileira e não cores partidárias. Você precisa saber que o poder cega as pessoas. A oposição é o espelho que mostra os erros do governo. Pessoas da situação só sabem falar “sim”. Se bem que os jovens, mesmo militantes da situação, também exigem mudanças. Jovem que se satisfaz com as estruturas vigentes, tem problemas.

- Assim - continuou ele – um dirigente tem que saber ouvir e respeitar a oposição, principalmente não destruí-la. A diferença entre países progressistas dos retrógrados, é que os primeiros aproveitam a inteligência da oposição. Os segundo, entretanto, aproveitam a força bruta. Por isso, a função pública não deve ser ocupada por pessoas despreparadas, mas por pessoas escolhidas entre as melhores do país. Pessoas que sabem separar as coisas. Tem mais. O país só cresce quando o povo reivindica; quando os intelectuais participam, se manisfestam. O dia em que deixarmos de ter esses jovens da oposição será o nosso fim e do nosso país. O pais deixará de ser nosso. Será entregue aos estrangeiros. Depois que isso acontecer, não mais adianta "chorar pelo leite que derramou". Você não aprendeu isso na escola? Coisas do Brasil.

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