terça-feira, 28 de junho de 2011

Bento Kangamba 3, Petro de Luanda 2



Bento Kanganda venceu (é isso mesmo) por 3 a 2 a forte equipe do Petro de Luanda, em futebol, no passado domingo, 26 de Junho, no estádio Nacional “11 de Novembro” em Luanda.

As duas equipes disputavam a liderança, a duas jornadas do fim do primeiro turno. O Petro de Luanda encontrava-se na segunda posição com a diferença de apenas 1 ponto.


O jogo prometia. Na verdade foi daqueles jogos que no jargão do futebol diz-se ser “jogo de 6 pontos“. Com a vitória a equipe de Palanca (Bairro de Luanda) isolou-se na liderança. Não está a ver nenhum concorrente pelo retrovisor.

Foi a primeira vez que assisti a uma partida do nosso campeonato da primeira Divisão do início ao fim ( 90minutos ), pela TV é claro, nos últimos 26 anos. A última que o fiz foi em 1985, na época de Maluka, Sarmento, Jesus, Vata, Ndunguidi, Dongala, André, Garcia etc. Os jogos que tentei assistir de lá para cá mais convidaram-me para um bom sono: bola alta e chute para frente e todos atrás da bola. É deprimente. (Angola está muito longe do futebol praticado na década 80 e na música década 70).



Uma coisa que precisa ser destacada: Bento Kangamba ( “o empresario da Juventude” como é conhecido) é o dono da equipe Kabuscorp (Kangamba Business Corporation Lda). Ele se considera tão dono da equipe que sempre que termina o jogo é ele que dá as entrevistas. O técnico só o faz por mero descuido.

Uma coisa que chamou-me atenção foi o fato de Kangamba ter dedicado a vitória ao “ mais velho Avelino”, seu recente sogro, que é irmão do presidente da República. Ele quebrou com uma eterna tradição de se dedicar vitórias ao presidente da República. (Pensando bem, ele já conseguiu tudo que queria, mas pode pensar em ser Ministro da Juventude e Desportos...)


Kabuscorp é uma equipe que tem futuro em Angola, aliás não é por acaso que com uma década e meia de "vida" está presente em muitas modalidades e sempre nas primeiras posições. Ainda, deve ser a única equipe angolana que “catequisa” e consegue converter para suas hostes mais simpatizantes. O resultado é visível nas ruas no dia do jogo e, principalmente, quando a seleção angolana joga. Por enquanto, em termos de arregimentar pessoas só deve perder para Igreja Universal.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

A «doutormania» dos não doutorados


Por Baldino Miranda
Sábado, 25 de Junho de 2011, p.39

Será por causa da pobreza académica?

Em países do primeiro mundo, é doutor aquele que, só depois do mestrado, que corresponde a dois anos de um determinado curso, e este por sua vez, defende uma tese que lhe garante o título de doutor. Isto significa que, para se atingir o grau de doutor, o académico tem, primeiro, 4 anos de licenciatura, 2 de mestrado, e só depois frequenta igual tempo de doutoramento.

É comum em instituições de ensino superior, os professores tratarem-se por doutores, até mesmo aqueles que nem sequer o mestrado possuem. Essa mania é adoptada também por estudantes, tanto do primeiro como os do último ano de qualquer curso, principalmente os de Direito em várias universidades.

Para estes últimos, o «doutoramento» começa no primeiro ano do curso. Não é de carácter obrigatório, mas, na sua maioria, tratam-se exclusivamente por doutores.

Acompanhamos atentamente o primeiro baixo da edição 419, cuja vítima foi o advogado Lazarino Poulson, que se tem apresentado bem nas suas intervenções enquanto especialista em Direito. Não caiu bem aos ouvidos de muitos quando este, sem pejo, se fez passar por mestre em Direito.

As reacções ao assunto, não se fizeram esperar, principalmente nas academias ou seja, nas universidades e no seio da classe jornalística, onde surgiram inúmeras críticas ao advogado. Em Angola, basta que alguém granjeie fama ou exerça cargo político ou ainda seja um pequeno empresário que tenha notoriedade, para ser logo tratado por doutor, mesmo que não o seja.

Em academias e em alguns institutos médios, muitos são os docentes que se auto-intitulam doutores. São várias as respostas encontradas numa ronda feita em algumas instituições de ensino superior e de docentes do ensino médio. São conhecidos alguns casos concretos sobre a temática em abordagem, havendo professores que nas universidades, obrigam os estudantes e nas suas relações sociais e familiares que sejam tratados por doutores, caso contrário, o «doutor» não terá uma boa relação com os estudantes. Chegam mesmo ao ponto de criar dificuldades aos seus alunos.

Alguém se lembra desta citação «Vamos fazer de Angola um canteiro de obra?» O presidente da República, José Eduardo dos Santos, usou-a e continua a empregar nos seus discursos quando se dirige à nação, sem fazer referência ao auyor da citação. Nesta ordem de ideias, o presidente faz-se passar por dono da citação, o que a ciência não recomenda.

Este não é um caso isolado, sendo vários os angolanos com uma certa visão académica que se fazem passar por mestres, doutores e muitos dirigentes que usam citações sem se referirem aos seus autores. Claro que o exemplo do respeito à ciência devia partir de cima.

Em países do primeiro mundo, é doutor aquele que, só depois do mestrado, que corresponde a dois anos de um determinado curso, e este por sua vez defende uma tese que lhe garante o título de doutor. Isto significa que, para se atingir o grau de doutor, o académico tem, primeiro, 4 anos de licenciatura, 2 de mestrado, e só depois frequenta igual tempo de doutoramento.

Como referenciámos acima, a nossa reportagem percorreu alguns estabelecimentos de ensino superior e outros tantos do médio para nos debruçarmos sobre o tema em questão. Apesar da pausa pedagógica, de preparação para as primeiras frequências do semestre, foi possível conversarmos com alguns estudantes de diferentes cursos.

Miguel dos Santos, da Universidade Metodista, onde frequenta o quarto ano de Direito, confessa que se sente bem quando é tratado por doutor pelos seus colegas. Reconhece que na instituição onde estuda existem muitos docentes que, sem sequer terem o mestrado, gostam de ser tratados por doutores.

«O país vai muito mal, ainda mais quando se trata de formação de quadros. São tão poucos e os que existem quase que não possuem os níveis desejados. Sinto-me bem quando sou tratado por doutor, porque o meu curso é muito respeitado. Mas, não é aconselhável e seria bom para mim que o tratamento fosse simplesmente por estudante universitário », disse.

Acrescentou que algumas vezes, os docentes não mestres colocam no fim das suas provas, o titulo de mestre em algum curso específico, mesmo não o sendo. Alguns ainda obrigam que sejam tratados por graus académicos que não possuem, e quando o contrário acontece, os alunos sofrem alguma represália.

As instituições superiores, ao admitirem certos docentes, tinham de os submeter a um teste que possibilitasse testar a capacidade do futuro docente, no domínio, sobretudo, pedagógico, não bastando simplesmente a média obtida no final da sua licenciatura. Reconhece-se que o nível de docentes nas universidades ainda não atingiu a sua meta. Os professores são na sua maioria licenciados, raras vezes encontra-se um mestre e até mesmo doutor.

Isabel de Sousa, 28 anos, finalista do curso de Gestão e Marketing, considerou que o nível de desordem que o país apresenta reflecte-se, de forma explosiva, no próprio ensino. Aponta que há alguns mestres e doutores com diplomas comprados e trabalham com toda a naturalidade do mundo com tais documentos, desfilam de um lado para outro, agitando os cartuchos adquiridos com muita facilidade. «Sou, por enquanto, estudante finalista do curso de Gestão e serei sempre eu mesma depois que concluir o ensino superior», garantiu.

É de uma família abastada, mas humilde, trabalha no ramo de formação há já largos anos, tendo a sua competência académica e humildade a elevado a um patamar nunca antes desejado. Ela é monitora da cadeira de História Económica.

Isabel é contra aqueles que acham que mesmo não terminando o mestrado ou doutoramento, devam ser tratado por estes títulos. «A humildade é o princípio da sabedoria», concluiu.

Para Jurelma de Jesus, natural de Cabinda, também finalista do ensino superior mas no curso de Direito na Universidade Católica de Angola, as instituições são totalmente diferentes em muitos aspectos. «Não vivemos muito essa realidade na UCA, como a instituição é tão rigorosa, então os professores devem cumprir as normas da forma como elas são», esclareceu.

Também reconheceu que, na UCA, há alguns docentes que deixam muito a desejar. «Existem aqueles docentes que exigem que sejam tratados por doutores ou mestres. A pobreza intelectual ou académica leva os estudantes e professores a graduarem-se no momento inoportuno», sublinhou.

Contactado sobre o assunto, um especialista em Direito e professor universitário, que não quis ser identificado, disse quintafeira, 23, que essa realidade tem muito a ver com a pobreza académica.

«Todo mundo quer ser tratado por graus que não alcançou ainda. Uns usam citações alheias para granjear fama no campo científico, sem fazer referência à origem das expressões», esclareceu.

Segundo o especialista, a mania dos doutores não doutorados tem vindo a crescer a cada dia que passa. A preocupação de atingir um grau académico sem passar por uma instituição superior é preocupante. É mais uma imitação de um brasileirismo, como se tornou moda em Angola. ■

WWW.SEMANARIO-ANGOLENSE.COM, EDIÇÃO 422 · ANO VII

quinta-feira, 23 de junho de 2011

Os brasileiros são mesmo bons na comunicação


Quando o assunto é comunicação os brasileiros conseguem golear a muitos países. Está na alma deles. Não é por acaso que suas novelas estão espalhadas por quase todos países, isso só para não falar de peças publicitárias. Esperemos pelas eleições do próximo ano para vermos o desfile de agências de publicidade brasileiras.

Um exemplo de que precisamos melhorar é a preocupação de se levar a informação para todas camadas sociais é quando analisamos a notícia veiculada pela agência angolana de notícias (ANGOP) com o título "Barragem de Kambambe terá capacidade de 960 megawatts"

Vejamos: "A central hidroeléctrica de Kambambe, na província do Kwanza Norte, terá uma capacidade instalada de 960 megawatts, contribuindo desta forma para reduzir o défice energético no país, anunciou hoje, quinta-feira, a ministra da Energia e Águas, Emmanuela Vieira Lopes." (...)

A prosa prossegue: "Construída entre os anos 1958 a 1962, a barragem de Kambambe funciona actualmente com quatro grupos geradores, com capacidade para 45 megawatts/cada, dois dos quais estão fora de serviço desde 2009, no âmbito do seu processo de modernização e ampliação" e continuou.

Será que um simples leigo sabe o que significa "960 megawatts"? Se fosse jornalista brasileiro procuraria colocar isso em termos mais práticos como, por exemplo, "essa energia é suficiente para abastecer uma cidade como a de Luanda por "x" dias.

Normalmente quando a matéria em pauta refere-se à área, o brasileiro sempre procura relacioná-la, obviamente, ao campo de futebol, como no exemplo a seguir:

"Entre os resultados parciais da ação executada pelo Ibama e o Batalhão Ambiental da Polícia Militar do Amazonas estão a apreensão de 10 caminhões, um trator de esteira e o embargo de 187 hectares de mata desmatada, o que equivale a 187 campos de futebol.". Folha de Mangaba


Parece que o último exemplo procura respeitar a todos cidadãos, sem nenhum prejuízo para ninguém. Ainda, mostra que o jornalista entendeu ou domina o assunto.

Pior que a primeira é quando nos aparece uma notícia só com cabeça e sem pernas, do tipo: um dia entenderão.