quinta-feira, 28 de maio de 2009

Maka dos nomes das universidades




ADÃO DO NASCIMENTO, Secretário de Estado para o Ensino Superior

Entrevista de Miguel Gomes
Fotos Afonso Francisco

J.N - São públicas as histórias de corrupção para entrar na UAN, para comprar provas de admissão, de subornos a professores... Conhece alguns casos deste género?

Tenho conhecimento como todos os cidadãos. É mesmo assim. Formalmente,não chegam todos os elementos factuais até nós.

J.N - Não há denúncias, é isso que quer dizer?

O que chega é muito parcial. É comum que cheguem denúncias sem nomes, sem elementos-chave para podermos trabalhar. Entretanto, acredito que melhorando o nível dos professores e do sistema, vamos poder eliminar estas situações. Se conseguirmos promover bem os serviços pedagógicos e académicos, melhorando o perfil dos docentes, vamos diminuir substancialmente os casos de corrupção.

“Universidade José Eduardo dos Santos? Porque não?”

J.N - Tenho conhecimento de benguelenses que ficaram desgostosos com a criação da Universidade Rei Katiavala em Benguela. Dizem: “Nós não nos revemos nesse nome, o Rei Katiavala não é desta região, nunca passou por aqui”…

Bem, “nós não nos revemos nesse nome”... Mas nós quem? Eu falo de “nós” não na perspectiva que sugeriu, este “nós” significa “nós angolanos”. Todos. “Nós angolanos”, sim nos revemos no Rei Katiavala. “Nós angolanos” nos revemos na Kimpa Vita, na Lueji, etc., etc. São figuras históricas nossas enquanto angolanos.

J.N - Houve a intenção de quebrar um pouco destas tendências regionalistas?

Com certeza.

J.N - Foi também esse o critério que norteou a escolha do nome José Eduardo dos Santos para a Universidade do Huambo? A Lei refere que as universidades devem ser baptizadas com “nomes de heróis nacionais”.

Foi, porque é um valor real que temos, cujo mérito é reconhecido a nível internacional, sem dúvida, e a nível nacional parece-me que não pode haver dúvidas também. Sendo assim, porque não?

J.N - Há quem diga que a escolha foi animada por motivos políticos. O Huambo sempre foi uma região onde a UNITA se implementou muito bem, por exemplo.

Não faz sentido nenhum, porque não é com este único elemento que se vai ocupar territorialmente aquela área. Por outro lado, não há aqui região da UNITA ou de quem quer que seja. Temos de ultrapassar estas questões. As regiões, mais uma vez, são nossas, de todos os angolanos.

Novo Jornal

Por que a de Cabinda não levou nome de herói e sim "11 de novembro"? Parece ser uma oposição a 1 de Fevereiro (tratado de Simulambuco). Poderiam ter evitado essas polemicas se adotassem nome genérico: Universidade Pública de Cabinda, Universidade Pública do Huambo, Universidade Pública de Luanda etc.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

terça-feira, 26 de maio de 2009

Aonde andam os intelectuais angolanos?


Por Gustavo Costa

Não há nada pior que ter intelectuais que não assumem nem as suas vestes, nem a sua nudez. Nada pior que um país em cuecas. É o que Angola é, em matéria de debate público…

Atolados nas areias movediças da indiferença, através do romance de Marc Dugain, ”A maldição de Edgar”, dos ecrãs da maioria dos nossos intelectuais ou coisa que o valha, o que se projecta “ é uma mulher severa e calorosa quanto uma esfinge de mármore com os visitantes de um museu”. O diálogo não pode ser, pois, senão tumular…

Os nossos intelectuais sobrevivem, aquartelados, numa sociedade vergada a um inquietante défice de debate. Os nossos intelectuais meteram a viola no saco e submeteram a crítica a um coma profundo! Dir-me-ão que não é bem assim, que debates é o que não faltam.

Que as autoridades governamentais até têm promovido, nos últimos tempos, em regime de “prélavado”, diversas conferências em série, para a discussão pública dalgumas questões candentes da nossa vida.

Mas, porque será que os cidadãos não se entusiasmam muito com esse tipo de conferências? Porque essas iniciativas, formatadas para discursos pleonásticos, são saudáveis, sim senhor, mas o peso e a influência, entre os participantes, de “cérebros” tatuados por bloqueios mentais cultivados ao longo de muitos anos de pensamento único, acabam por limitar a libertação da massa crítica de muita gente.

Nesses fóruns, os participantes são “degolados” por regras de jogo geralmente impostas de cima para baixo e por decisões consumadas ainda antes das discussões. O que os cidadãos pretendem dos intelectuais é vê-los a participar, de diferentes formas, em debates a céu aberto, em busca permanente do aprofundamento do contraditório.

O certo, certo é que ao invés disso, passamos a ter intelectuais com medo de expender publicamente as suas próprias ideias!

Parece que, de repente, os nossos intelectuais foram ensinados a não debater, parece que, de repente, os nossos intelectuais foram vacinados pelo silêncio, parece que, de repente, os nossos intelectuais, como escreve João Bernard da Costa, colunista do “Público”, foram instruídos a flutuar a meia haste, com medo de mostrarem os anéis. Como lhe acrescentou o articulista,”não há nada pior” que intelectuais que “não assumem nem as suas vestes,nem a sua nudez”.

Desse ponto de vista, concluiu João Bernard da Costa,” nada pior que um país em cuecas”. É o que Angola é, em matéria de debate público. Este é o retrato fétido que a maior parte dos seus intelectuais, dá do nosso país. Intelectuais cujo comportamento abúlico não lhes permite senão dispor de tempo para se exporem, em hasta pública, como voluntariosos manequins em avançado estado de auto-castração mental…

É certo que poder algum, dificilmente cede a pressões; os poderes não as toleram e detestam ser contrariados mas, do que se fala aqui, é de um direito que assiste aos cidadãos: o de serem informados e o de participarem publicamente na discussão dos seus problemas. O nosso “quadro clínico”, a esse nível, é, francamente, preocupante…

É um retrato pálido, esmagado pela esclerose mental de gente que venera a ausência do contraditório, esquecendo-se que este activo representa uma saudável marca na cultura da diferença, que foi cobardemente engavetada pela maioria dos nossos intelectuais, sempre temerosos da escalpelização das nossas contradições.

Poucos, muito poucos mesmo, são os intelectuais no nosso país que se assumem como verdadeiros intelectuais. É preciso, por isso, dizer “aos outros”, que antes de pertencerem à sua tribo ou raça, devem ser intelectuais e como tal, comportarem- se como fazedores, por excelência, de ideias.

O que se pretende, na sua condição de portadores de um pensamento diferenciado, é ver os nossos intelectuais a transmitirem aos cidadãos comuns as ferramentas indispensáveis à sua plena afirmação social, fazendo, se necessário for em casos extremos, rupturas com o “establishment”. O que acontece, porém, é que muitos dos nossos intelectuais, antes de ousarem pensar em voz alta, primeiro rastejam pelos corredores da capela do partido para saber se e quando o devem fazer…

Instalada a desilusão no seio da opinião pública por causa da farsa encapotada por muitos políticos avessos à cultura e à arte, a esperança está a dar lugar agora a uma frustração ainda maior, perante intelectuais ou coisa parecida que, ostensivamente, julgam que o seu umbigo é o centro do mundo, como se a sociedade não pudesse viver sem eles…

Do que deles se esperava era de uma participação mais interventiva e criativa para desbravar caminho rumo a uma sociedade mais plural, aberta e crítica. Mas, em lugar da frontalidade nas ideias, em lugar da modernidade no pensamento e em lugar da inovação no estilo, os nossos intelectuais preferem aconchegar-se, também eles, na imundice do submundo da intriga, da maledicência e da inveja que, desgraçadamente, emporcalha a nossa vida pública.

O que é que, afinal, se tem passado? A imposição da decisão em detrimento da reflexão, como se ambas fossem irreconciliáveis. E onde estiveram e têm estado os nossos intelectuais, para não reclamarem da sua participação ou para, de diferentes formas, provocarem, eles próprios, fracturas na discussão pública dos grandes problemas que nos afligem? Uma boa parte deles,comprometida até ao pescoço…

Os nossos intelectuais assemelham-se, por vezes, a uma obra de ficção embrulhada num “cardápio” gorduroso e indegesto: Intelectuais fechados na sua caserna. Intelectuais que, como bons daltónicos, não conseguem distinguir as cores.

Intelectuais chorosos, deprimidos e cobardes. Intelectuais que se orgulham de sair à rua, cá dentro, protegidos pela “burka”, enquanto lá fora, grasnam contra o mesmo poder que servem e de que se servem. Intelectuais, enfim, “triunfantes”, a viverem, porém, subjugados à redoma de um sistema clientelar. Valha-nos a existência de uns “poucos outros” intelectuais livres, que graças a Deus, ainda continuam a pensar em voz alta…

Opinião: Jornal Novo, 8 de maio de 2009

Convênio estreita relações Brasil-Angola


O encontro marcou o convênio entre Fesa e UFPR
Autor: Leonardo Bettinelli

Único convênio da UFPR que visa formação integral dos alunos intercambistas, a parceria com a Fundação Eduardo Santos de Angola (Fesa) já recebeu 26 alunos angolanos desde 2005 e este ano forma dois, em Ciências Sociais e Comunicação Social.

Para ajustar termos do acordo e aprimorar pontos para a renovação do convênio entre UFPR e Fesa, o diretor executivo João de Deus, e a diretora executiva para Brasil e América Latina Gal Ferraz, estiveram na UFPR na quinta-feira (21/05), com o reitor Zaki Akel Sobrinho e sua equipe.

Na ocasião, foram debatidos pontos como procedimentos de seleção, inclusão de cursos de pós-graduação e formas de manutenção dos alunos no Brasil. João de Deus ressaltou a importância de envolver empresas angolanas no financiamento de alunos que queiram vir ao Brasil. Segundo o assessor de Relações Internacionais, Carlos José de Mesquita Siqueira, as propostas devem ser colocadas em prática em 2010.

Fonte : Lais Murakami
UFPR

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Mário Cumandala apresenta sua tese sobre a "angolanização"

Mário Cumandala, economista, exonerado de uma petrolífera, que na semana passada teve sua crônica “FREE LIKE A BIRD - LIVRE COMO PASSARO: Reflexões” publicada neste blog, esta semana volta à arena. Apesar de seu sonho de viver o “El dourado Angolano” ter sido britanicamente interrompido, o “Dr. Cumandala”, jovem profissional ambicioso, não cruzou os braços nem se pôs a chorar. Desta vez reaparece para compartilhar sua tese sobre a “angolanização”.



Luanda 22 de Maio de 2009.

O "El dourado Angolano"

Por Mário Cumandala

Acordei esta manhã pronto para escrever sobre a angolanização, isto em resposta a certos comentários, frutos das minhas primeira reflexões já no ar. Será que devia mesmo? O que a Angolanização já fez por mim?

Enquanto ponderava sobre este material, logo lembrei-me de que afinal de contas, não foi a pascacice da minha ex-empresa, que me recrutou dos Estados Unidos, para Londres, mais sim a força da angolanização que eu e os demais compatriotas, muitos deles também já fora da firma, fomos parar na expatriação em Londres. As petrolíferas que eu conheço, por livre vontade, jamais mandariam angolano na expatriação – esta e a verdade inegável.

Obviamente, este conceito da angolanização, muito embora ainda tão raro como a lenda da ave fênix, é já sem dúvidas, a razão porque eu estou de volta a minha pátria.

Então se é assim, deixem-me provar para comigo mesmo, só para hoje, que eu sou mesmo angolano da gema, com ou sem esta – angolanização em vigor.

Foi então que desprevenido, pensei em fazer história, nessa linda manhã. Minha decisão foi nacionalisticamente influenciada. Decidi sem circunlóquios, usar hoje, tudo que é “made in Angola”; isso mesmo, angolanizar a o meu dia. Let’s roll, let’s bouce people’, ou seja, vamos embora minha gente a uma aventura de ricochete.

Lembrei-me logo que o movimento rotineiro, que todas as manhãs a natureza obriga-nos a obedecer. Efectua-se por cima de uma pia, não feita em Angola. Por isso, não me surpreendi ao entrar na casa de banho, e deparar-me com uma pia branca, lavabus branco, espelho não feito cá, em suma, nada nacional.

Peguei no colgate, e a escova de dentes, verifiquei com tristeza que não fugiam da regra. Porém, grande foi o alívio quando entrei no chuveiro e gritei bem alto - água da minha terra, autêntica agora a miragem do “el Dorado” em minha alma humilhada por tantos elementos estranhos a meu redor.

Angolanização do sector petrolífero só será sucesso se os instrumentos jurídicos para implementar e monitorarem forem efectivos. Com esta máxima, vejamos: durante os meus dias de estudante em Londres, eu tive muitos amigos Nigerianos, oriundos do Delta, região rica em ouro negro, entre os povos Ogonis. Eles sempre diziam que a exploração do petróleo em sua região, tem trazido conseqüências nefastas.

E como para converter um agnóstico, eles faziam-me sempre lembrar do seu herói o Chefe Ken Saro-Wiwa, escritor nigeriano e activista que lutou em levar justiça social e ecológica para o povo Ogoni da região do Delta do Niger. Ele foi executado em 1995, com um único crime: ter desafiado a Petrolífera Shell por poluir o ar, terra e água da região do povo Ogoni. Ele, claro, foi bem sucedido em levar esta causa, a atenção da comunidade internacional.

Será que existem mesmo consequências socio-económicas para os habitantes de um “El Dorado” como a Nigéria ou Angola?

Como economista, tenho sim que concordar, que o petróleo, produz efeitos perversos e negativos nas economias dos países produtores. Cria grandes distorções, dificulta a integração e a coordenação dos diferentes ramos da máquina econômica.

No nosso caso, está provado que não fosse o crude, não estaríamos a curtir conferências nacionais em Talatona de todas as índoles. Isto porque estamos admitindo que o petróleo, provocou a falência dos sectores não petrolíferos. Nos países onde há uma consciência clara da situação - acredito ser este o nosso caso - com um pouco de vontade política afirmada, o petróleo garantiria ainda um rápido e apreciável desenvolvimento social, económico e cultural.

Para não prevaricar as minhas constatações, producto destes quase 3 anos pelo El Dorado angolano, posso rumorejar o seguinte: contrariamente à situação de alguns países como a Noruega, onde o petróleo permitiu a adopção de políticas sociais mais justas, e mais equilibradas, aqui em Angola, ainda estamos longe. Isto não quer dizer que aqui não há melhoria na qualidade de vida. Mas o mal, se assim o podemos alcunhar, não vem do petróleo, mas sim dos homens, estes angolanos e estrangeiros com poder de decisão.

E é a estes homens e mulheres, a quem dedico esta crônica e imploro-lhes: vocês podem e devem mesmo mudar. Regenerem-se, abram-se aos outros, para formar com eles, uma sociedade democrática, justa e fraterna. Mas agora, eu espero, juntos, ‘we can’. Não deixem o sonho Angolano desmoronar-se. É conhecendo a quantidade de reservas do ouro negro que Angola possui que digo que a angolanização tem que triunfar.

Seria, no entanto, muita pretensão minha pensar que a angolanização é igual a uma vara mágica. Mesmo que abraçando o zoomorfismo - fé esta que resultasse em milhares de lobisomens - pré-dispostos a mudar, seria necessário um mapa credível para a vitalização do sector.

Os elementos deste mapa teriam que fundamentalmente incluir: as leis que regulam o sector, as lei do investimento externo, e a criação de uma companhia petrolífera nacional. Até aqui, tudo bem, não há aqui surpresas, pois que o MinPet e Sonangol, têm mostrado que são capazes de emular o que é bom.

Existe um elemento nisto tudo, que quando mal gerido, levar-nos-á a uma situação de dependência eterna. A indústria petrolífera, presente em nosso país desde as décadas de 50, criou ou não Angolanos capazes? Será que já nas décadas de 90, quando grandes avanços tecnológicos ocorreram na indústria, os engenheiros angolanos foram tão marginalizados e não tiveram acesso a essas tecnologias de ponta? Julgando pelo facto de que, os investidores externos, estão sempre a mandar os angolanos fora, significa que temos internamente, pouco aí no Sumbe, para oferecer. E que dizer das infra-estruturas inadequadas que em nosso país abundam?

Vamos aqui ilustrar o papel que elas jogam, e nada a favor das multinacionais. Imaginemos que a comuna de Kalenga, Huambo, descubra, num belo dia, que tem petróleo “onshore”. Entre os possíveis cenários posso destacar: uma dessas multinacionais, depois de ganhar o concurso, traria duas sondas a Kalenga, apoiadas cada por 100 pessoas técnicas, total 200 pessoas. Essas pessoas, certamente, requereriam acomodação, áreas de lazer, centro médico, centro comercial, cinema, discoteca para uma Kizomba, escolas para seus filhos, transporte local, um PUB, etc.

Eu sou da Kalenga, e estes serviços lá não existem. Por causa desta carência, a multinacional, presente na Kalenga, deve sim contribuir em levantar a economia local, através de um programa de melhoramento do que já existe, ou construir coisas novas, e não só para eles mais em benefício da localidade.

Falemos então da mão de obra especializada e nacional.

Para Angola produzir acima de 4 mil b/d, requererá uma força de trabalhadores nacionais de, aproximadamente, 20 mil pessoas, incluindo drillers, geólogos, engenheiros de reservatórios e produção, analista comerciais, etc. O “know how” será necessário, desde o pessoal senior até ao pessoal da manutenção. Serviços de apoio ao sector talvez rondem também na casa das 20 mil pessoas.

Hoje, já não é novidade o facto de que há carência em certas áreas deste sector. Na média, leva 5 a 10 anos para treinar um engenheiro de perfuração de poços, por isso não é segredo que o treinamento terá que vir por enquanto fora de Angola – mas até quando?

E a remuneração? –‘Show me the money’-

Notemos, um expatriado supervisor de perfuração aqui em Angola, pode ganhar de 2 a 3 mil dólares por dia dependendo do local. Um Sênior nesta especialidade comanda um salário anual de 200 a 300 mil dólares.

Comparemos com os salários dos Angolanos, 3 mil dólares ao mês, isto é igual ao salário diário do expatriado. Esta grande disparidade em remuneração, acreditem, vai criar conflictos dentro das companhias estrangeiras e na própria Sonangol. Isto é injustiça social - aconteceu comigo - e não precisa continuar assim.

E a solução?

Em certos países do Golfo Pérsico, os salários dos trabalhadores do departamento onde um expatriado e baseado, após a sua chegada, o salário mínimo dos nacionais no team, fica fixado em 4 mil dólares por mês. Em seguida, podem subir para 50% do salário do expatriado, assumindo que o trabalho do nacional é igual ao do expatriado. Os salários são ainda revisados anualmente e comparados com os dos profissionais similares na região.

No entanto, nota-se o contraste em Angola. Existe uma padronização generalizada nas petrolíferas, quanto aos nacionais, muito embora eles também façam seu melhor e às vezes mais. O triste é que os expatriados, no fim tomam crédito do trabalho feito e o nacional fica no mesmo nível 5 anos, com avaliações negativas dadas por eles.

Além disso, para fins que só eles conhecem, por exemplo, no sector petrolífero em Angola, o direito à privacidade é violado diária e constantemente. Não só os trabalhadores são sistematicamente vigiados por colegas, como são permanentemente controlados pelos meios cibernéticos que registam cuidadosamente os telefonemas que fazem ou recebem, os sites que visitam, os e-mails que recebem ou expedem.

Assim, as chances do nacional ver seu magro salário a subir dependem do seu relacionamento com o chefe, sexo, e até cor da pele, e não da angolanização – grande esquema não é mesmo? Mas, para eles, os classificados filhos da firma, tudo que têm que fazer e criar títulos para eles e seus escolhidos para então justificar salários gordos e permanência no país. Isto é descriminação, para não dizer exploração da classe trabalhadora nacional. Não existe aqui nenhuma inferência ou elemento racial, mais sim a necessidade de mudança no sector.

No departamento onde eu trabalhava, eu sou o terceiro vindo de Londres a demitir-me. Neste departamento éramos dez angolanos e dez expatriados. Os expatriados eram todos “Team Leaders” e nos os Mwuangolés, somente recebendo ordens. Até prova disso, e que, já assisti reuniões a debruçarem-se sobre a situação de habitação dos trabalhadores nacionais, onde eu era o único angolano e não era permitido opinar. Você decide, se isto é angolanização.

Voltando para as macas das remunerações.

Existem vantagens estratégicas no sistema de remuneração acima mencionado, dentre elas, se aplicados aqui em Angola, podíamos citar:

1 - Atração garantida dos melhores graduados da Universidade Agostinho Neto, Universidade Católica de Angola, etc.

2 - Formandos vindos da diáspora, ingressariam na indústria petrolífera, sem medo de verem suas carreiras reduzidas a uns poucos dólares.

3 - Providenciaria incentivos tangíveis, para os nacionais serem treinados, e assumirem as responsabilidades reais dos expatriados com contractos limitados não acima dos três anos.

4 - A transferência da riqueza proveniente da indústria, seja em termos do poder aquisitivo ou tributação aos trabalhadores do sector, far-se-ia sentir-se na economia no geral.

Portando meus caros ex-colegas, parem de pensar que vocês já são a classe média de Angola, infelizmente vocês ainda não o enquadram esta elite, a vida ainda continua um calvário para vocês – eu incluído.

Pecaria se não trouxesse à tona uma pequena elite já existente no sector: os Presidentes do Conselhos de Administacão na Indústria transformadora/extrativa de Angola. Paras os melhores quadros nacionais continuarem a assumir os destinos das multinacionais por cá sediadas, já elas que assim gostam de os fazer passar por cartões de apresentação, ou angolanização a sua medida, fica aqui uma proposta um tanto radical.

Defendo sim para eles, salários de USD$ 1 milhão por ano. Os meus compatriotas angolanos merecem. Eles não fazem menos para estas firmas do que seus equivalentes lá fora. Se estes postos fossem assumidos por um expatriado garanto-vos que não seriam USD$ 200 mil que os nossos ganham anualmente, que estes receberiam. Por isso, devem sim ser remunerados como os CEOs que estão lá em Houston, London, Paris, Roma e com todos os pacotes e opções.

Ao concluir minhas reflexões, encorajo a todos vocês jovens, a pensarem crude, e mais crude. Afinal o que seria das nossas vidas, hoje se não fosse a indústria petrolífera? Nem já esta crônica eu acabaria em uma hora.

Então, ao descer a escada do meu prédio, nesta manhã, respirando uma brisa suave deste ar, quase puro do Projecto Nova Vida, onde vivo, entrei lentamente no meu carro, e logo enquadrei-me no engarrafamento, rumo à cidade. Já no meu carro, de fabrico americano ostentando um fato de marca StafforD Executive, “made in” Manchester, UK, com um sapato de marca Stacey Adams, também americano, e uma gravata de Luciano Versi, Italiano, senti vergonha de minha condição.

Em seguida, como de costume aqui na ‘banda’ no engarrafamento da manhã, tornei-me sim em mais um número – é que assim tenho vivido desde que cheguei a este tal Eldorado que não é Eldorado. Acreditei e esperei pela angolanização para que já posto em meu país conquistasse um nome e espaço.

Mas pelos vistos, por enquanto, tenho que aceitar que, sou apenas um número. Será que Gamal Abdel Nasser tinha mesmo razão quando assegurou aos Egípcios que ‘havia poder nos numeros’? E preciso saber esperar, para poder alcançar. Viva a angolanização.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Cardeal Nascimento leva o primeiro "Honoris Causa"


Acredite se quiser. Após uma titânica batalha, que quase o dividiu meio, em reunião extraordinária realizada no dia 30 de Março o Senado da Universidade Agostinho Neto (UAN) deliberou, finalmente, aprovar a outorga do título Honoris Causa ao Cardeal Alexandre do Nascimento.

Dom Alexandre do Nascimento foi indicado pela Faculdade de Direito pela sua actuação em favor das Ciências, das Letras, das Artes e do desenvolvimento moral e espiritual de todos os angolanos. A decisão tomada pelo Senado no dia 30 de Março foi adiada várias vezes porque alguns dos membros que o integram, numa proporção nada desprezível, defendiam que o primeiro título Honoris Causa da Universidade Agostinho deveria ser outorgado ao Presidente José Eduardo dos Santos.

Ao Semanário Angolense não foi possível saber quem defendia a outorga do título Honoris Causa a José Eduardo dos Santos e nem os argumentos que a sustentariam. Essas importantes deliberações do seu Senado, acontecem no ano em que a Universidade Agostinho Neto completa 30 anos de vida.

Até pouco tempo atrás essa não seria matéria para tanta discussão. Seria tomada por unanimidade. Pelos vistos muitos já começaram a pôr em prática as palavras do próprio presidente proferidas no início do ano, quando pediu aos angolanos a "mudarem de mentalidade"
Ref: SA

Ou mudamos agora ou nunca


Não entendo bem ou melhor, não sou muito chegado ao "Rap", exceto quando o assunto é a letra que, normalmente, fala dos problemas do povo. Para os devidos efeitos sou sempre da seguinte opinião: “quando não entende alguma coisa, passe a admirá-la”.

Agora surgiu uma canção que está a render muito em conversas de rua e também aos especialistas em crítica. A bola da vez é a canção de Yannick Ngombo, o Afroman, que é o “rapper” do momento em Angola. Curta a letra e depois tire suas conclusões.


«Se queremos mudar, esse é o tempo/porque ainda vai a tempo»
Yannick Ngombo (Angola)

Glossário

Mangolés – angolanos
Tuga – Portugal
Mundele – branco
Mbumbo – negro
bué - muitos


Não sei como é na tua banda
Mas aqui uma empresa quando tem muitos claros, é porque paga bem
Se tiver bué de negros, podes crer que o salário não convém
Há sítios onde o negro é barrado
Mesmo bem apresentado
Mas o branco pode entrar de chinelas, calção, parte os cornos ou de fato-macaco
Você até fica fraco
Não é preciso ir na Alemanha, Brasil ou em Portugal
Em Angola o negro discrimina negro igual
Nenhum branco quer ser negro
Mas a maioria dos negros querem ser brancos, seus parvos
Utilizam produtos que nem o Charles Buá
Fritam o cabelo igualzinho ao Akwá
Um negro com lentes de contacto fica tipo um cambuá
Como é que não vos chamam de macacos, uá
Mesmo aqueles brancos que lá não são ninguém
Aqui são todos chefes, uma vida se bem, um salário que arromba
Quantos mangolés estão na Tuga a sofrer na obra?
Preto macaco, toma banana
Ainda são discriminados
Mundele pode fazer 20 anos na
África, não muda seu sotaque hábitos e costumes
Tira o chapéu
Mas o mbumbo um ano só nas bandas já se dá de europeu
Até vem te dizer preto mesmo é atrasado, é muito preconceito
Em Angola só não temos preconceito na bebida e no sexo
Bum bum bum, estou a abrir ché um pula por aqui
Terá perdido qualquer coisa?
«Não, esta casa pertence-me, vim recuperá-la»
Brinca bem que tantos anos a viver aqui
Ou me mata ou quê, não saio daqui
Nem com um contra-fé,
Fugiram da guerra
Agora estão a vir como donos da terra
«Não sou culpada pá, eu não tenho nada a ver com os vossos problemas»
Só falta vir mais um mundele com um papel dizer que o país é dele, isso é racismo

Refrão (2 vezes):
Eu não sou racista, sou realista
Mangolê precisa de uma lição de moral
Para se libertar de uma escravidão mental

Não sei como é que é ali, mas aqui meu dom
O mais lixado não é o pula, é o latom
Eu sou latom minha namorada era black
Eu não tenho nada a ver com essas dicas
Vieram da mistura mas com negro não querem se misturar sempre a discriminar
Feio ancorado com matumbo se casam entre eles
Mas se for um mbumbo, tem que ser um daqueles
Ou é falado ou tem nota verde
Dizem o mulato não se perde é mentira nós é que fizemos assunto deles
Não admira, o nosso complexo é que lhes deu acesso
O negro quando agarra uma mulata
Ua ué, só da maneira que estranha
Se for uma branca, tipo que já está no céu, homem aranha
Há sítios onde você entra, funcionários são todos clarinhos
Negros só um ou dois, essa história não é de hoje
Não é preciso ser bom ou ter dom
Em Angola, é mais fácil encontrar um emprego se fores branco ou latom
«Estou andar muito no sol até estou a ficar escuro possa»
Se preocupamos muito com, a cor, isso não é uma questão política
O próprio negro é que não se dá valor
Há negros que fazem filhos mestiços pensando no seguinte:
A cor deles como é que dá sorte, quem sabe um dia vai ajudar a família
É difícil ver um latom que tem massa a casar com uma dama pobre da minha raça
Ou a negra tem ou é fi lha do fulano
Pode ser engano, mas a maioria
das filhas ou filhos dos negros que têm dinheiro
Casam-se mais com pulas ou latons
Essa história já vem de longe
O mais agravante é que negro quando já está a ter um pouco de fama ou dinheiro só mulata é que é mulher
Le leva daqui dali a se exibir para toda gente le ver
Ché está com uma latona
Há negras que só garinam com pulas
E há negros que falam mesmo assim
«Eu gosto de mulatas»
«É, que eu gosto dele» amor não tem
cor isso é complexo da pele acredita
Por isso hoje muitos latons dizem a
nossa cor facilita

Refrão (2 vezes):
Eu não sou racista, sou realista
Mangolê precisa de uma lição de moral
Para se libertar de uma escravidão Mental

Há quem quando lhe dizem estás a ficar bem escuro só o desgosto no rosto
Agora lhe diz o contrário: estás ficar bem clarinha
«Ai obrigado, muito obrigado»
Só a alegria
Eu nunca tive o pesadelo, melhor dizer, sonho de ser branco ou amarelo
Olhem para mim, úau, olhem para mim, úau
Como adoro a minha pele de cacau
Na maior eu digo isso
Cabeça erguida, o melhor presente que Deus me deu na vida foi de me ter feito escuro Afroman puro
Moreno, cabrito, evita isso, meu irmão
Mestiços são negros em toda parte do mundo
Só em Angola é que não são
Negro ou branco, nenhuma raça é superior ou inferior
Somos todos iguais
Só há diferença na cultura e na cor
Desculpa se eu feri a sensibilidade ou passei a meta
Só sei que isso dói
A verdade dói, mas constrói
Podes até me chamar teta, pateta ou careta
Mas uma coisa é certa
A nossa sociedade precisa de uma
mudança de mentalidade
Eu não sou racista, sou realista
Eu sei que o angolano tem problema de interpretação
Por isso atenção, eu não tenho nada contra latons ou pulas
Digo isso no fundo do coração
Eles não se dão de superiores, nós é que nos sentimos inferiores
Nós é que temos que eliminar esse complexo, fazer uma revolução mental
Para que no futuro os nossos filhos possam viver de igual para igual
Sem preconceito racial
Senão, os nossos netos viverão numa nova era colonial, por culpa de nós próprios
Se queremos mudar, esse é o tempo
Porque ainda vai a tempo



Ref.: SA

terça-feira, 19 de maio de 2009

Criança com tumor na língua precisa urgentemente de tratamento


Luanda - Uma criança de 5 meses, de nome Jussara Jesus, está a padecer de um cancro na língua, que causou um grande tumor, impedindo-a de comer com normalidade, facto que levou a mãe a clamar desesperadamente por ajuda por parte da sociedade civil.

A pequena, chora constantemente por causa das dores, e poderá perder a vida nas próximas semanas, caso não haja uma intervenção médica, para o tratamento do tumor na língua.

Mimosa da Silva, mãe, disse que já recorreu por várias vezes ao Hospital pediátrico de Luanda, entretanto, nada foi feito até ao momento, visto que, os médicos alegam que a intervenção só poderá ser feita depois dos dois anos, e fora do país.

Ainda assim, fui ao Centro de Oncologia, apresentei os papéis que me deram, e a médica que recebeu disse que qualquer operação para a minha bebé, só tem de ser feita fora do país, e para combater o crescimento do tumor, deu três picas na língua, mas eu não vejo nada a diminuir, e ainda perguntei se a solução não seria mesmo uma operação, ela disse que esta operação sangra muito, e que só tinha que ser mesmo fora do país”, contou a mãe da pequena Jussara, a Reportagem do Telejornal da TPA.

É desta forma que, o clamor desta mãe, pela dor da sua filha, chegou até a TPA, daí que qualquer ajuda poderá ser feita através dos contactos, (00244) 222320351, (00244) 914374416.

Fonte: TPA

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Mário Cumandala narra a sua Odisséia


Mário Cumandala é economista angolano. De origem humilde, estudou no Brasil, Inglaterra e Estados Unidos. Foi profissional de sucesso nesses países. Inspirado no Poeta Neto no seu célebre: “Havemos de voltar”, largou tudo para regressar à sua pátria. Foi contratado por uma empresa petrolífera, dentro da política de “angolanização”, política essa que obriga as empresas petrolíferas a ter angolanos em todos os níveis da hierarquia e limita a contratação de estrangeiros só para casos em que não haja mão-de-obra angolana qualificada e, mesmo assim, com autorização do Ministério dos Petróleos.

Depois de poucos anos de trabalho na petrolífera, sentiu-se injustiçado e desligou-se ou foi desligado. Nessas condições surge a seguinte indagação: voltar para diáspora ou continuar em Angola? É correto uma empresa contratar angolanos que se encontram fora do país e, uma vez estando em Angola, em pouco tempo “maltratá-los” ou demití-los? Como se deve dar essa “angolanização” se em Angola há carência de mão-de-obra especializada?

Nas reflexões que se seguem, Kumandala fala de sua trajetória de vida e analisa se fez uma boa escolha voltar para Angola. Normalmente esse é o grande dilema dos angolanos da diáspora. Finalmente, ele mostra um pouco os bastidores da empresa petrolífera onde trabalhou. É uma crônica com “emoção garantida do início ao fim ou seu dinheiro de volta”.


Luanda 15 de Maio de 2009.

“FREE LIKE A BIRD” – LIVRE COMO O PÁSSARO: Reflexões

Por Mário Cumandala*


Chamo-me Mario Cumandala. Eu era um “village boy”, um orgulhoso rapaz da aldeia, de lá do planalto central, mais precisamente, Kalenga, Vila Verde, Huambo. Sou filho de humilde camponeses que desde cedo ensinaram-me o valor do trabalho árduo e abnegado. Também, pela alta providência, sou hoje economista. Isto significa que aqui na “banda”, já posso também ser chamado “Dr. Cumandala”.

A minha epopéia ou aventura começou quando deixei Angola, ainda em 1987, rumo ao Rio de Janeiro. Com zero valor monetário, nem 1 (um) dólar no bolso eu tinha comigo, e prova disso é que do Aeroporto Internacional do Galeão só sai graças à carona de um anjo que levou-me à cidade para passar a noite como visita do Dr. Gedeon Marques, na altura Director do Hospital Adventista Silvestre, bem junto aos pés da Estátua do Cristo Redentor, na ladeira dos Guararapes.

Assim que concluí o segundo grau, ou ensino médio, parti em busca de verdes pastos e outros vôos. Londres foi minha paragem. Em Dezembro 1989, no frio Anglo-saxônico, ali cheguei assim mesmo, para aprender Inglês e, posteriormente, estudar Direito. Um ano depois, quando tentei ingressar à universidade, disseram-me que meu nível de Inglês, não era suficiente para cursar Direito. Desapontado, fiz mais um ano de Inglês e no fim acabei optando em estudar economia na Universidade de London Guildhall, actualmente London Metropol.

Em Londres conheci a mãe da minha primeira filha, uma americana de olhos azuis e cabelos louros. Ela estava no programa de “exchange” de estudantes Americanos. Ela era do Estado de Manchester, New Hampshire. Com o meu inglês de meia tigela consegui quase o impossível; conquistei o coração da dona da língua. Deste romance, nasceu a minha filha que este ano faz 18 anos. Este relacionamento não chegou nem a ser um noivado, pois que havia entre nós diferenças culturais tão grandes que ambos achamos que não eram negociáveis.

Por exemplo, eu era, na altura, um machista assumido e achava que ela, como namorada, tinha que fazer tudo para mim. Mas, a coitada da moça, não sabia cozinhar arroz (ela já chegou de me pedir receita para cozinhar arroz), nem engomar sabia. Hoje, ela casada, e eu também, temos um relacionamento saudável por causa da Josane, a nossa filha.

Ainda durante meu exílio ou diáspora, no Reino Unido, conheci aquela que viria a ser dona do meu coração para sempre. Ela chama-se Lindy, uma moça muito ‘fofa’, e linda, que acabara de chegar de Harare, Zimbabwe, no dia anterior ao nosso encontro. Isto foi lá no YMCA em Stockwell Road em Londres. Confesso que não foi fácil conquistá-la. Mais 4 meses depois de muita persistência, aí sim, ela sucumbiu, vítima do meu famoso charme; e o resto são recordações felizes que comigo carrego para o resto da minha vida natural. Essas memórias, incluem o facto de termos freqüentado a mesma Universidade, e graduarmos juntos em 1996, ela em Sistemas de Informática e eu em Economia.

Um dos acontecimentos que marcou bastante aqueles anos e nosso tempo de estudantes em Londres, foram os 2 anos em que fiquei incomunicável com os meus familiares aqui na banda. Isto foi de 1993 a 1995, período em que não tive contacto nenhum com a família no Huambo, devido à ocupação do Huambo pela Unita.

Também, lembro-me como se fosse ontem, a quanto a minha primeira viagem para os EUA, visitando a pequena Josane que na altura tinha 3 aninhos. Isto foi precisamente em Outubro de 1994. É que eu não tinha visto a minha filha, desde os nove meses quando a sua mãe havia viajado até Londres para que eu a conhecesse. Eu não tinha passaporte para viajar. Como “asylum seeker” até a data quando pude viajar eu tinha em posse o passaporte azul.

Já no aeroporto de Logan em Boston, que memórias inesquecíveis, quando a pequena Josane confirmou com a mãe que eu aí estava. É que ela atravessou o cordão de segurança amarelo com braços abertos para me saudar. Chorei de emoção. Este e o prazer de ser pai, que repetiria em 2002 ainda na America, quando nasceu a Nasoma.

Estando já em New Hampshire, recebi um convite vindo de Washigton, D.C. do Dr. Jardo Muekalia para uma visita de cortesia. Posto na capital do mundo livre, o meu “host” levou-me ao famoso “Washington Monument”, o “Capitol Building”, e finalmente a Casa Branca. Era Sábado a tarde, turistas de todo mundo, incluindo Angola, estavam presentes visitando este famoso endereço na ocasião acupado pelos Clintons. Nos estávamos do lado chamado Rose Gardens, quando de repente ouvimos tiros a serem disparados contra a Casa Branca.

O que se seguiu foi uma algazarra inesquecível, pessoas correndo de um lado para o outro, um pandemônio total. E que um americano frustrado da vida, decidiu neste dia talvez usando-se da minha prestigiada presença na área, para disparar contra o primeiro presidente negro Americano, Bill Clinton, que sim nesta altura se encontrava na Casa Branca (assim diziam os afro-americanos até que chegou Obama). Assim foi meu primeiro encontro com a Casa Branca.

Nós, acostumados a estampidos da nossa guerra, fomos os mais céleres a deixar o local. Lembrei-me da guerra em meu país natal que, infelizmente, neste mesmo dia sem eu saber, ceifava a vida de minha própria mãe Victorina, no Huambo. Acredito que este foi o meu primeiro encontro com a história a ser forjada.

Anos depois, em 1997, ao presenciar a semana mais sombria que já vi, a quanto da morte da princesa do povo, depois já em 2000 na capital Americana, o suspense Algore/Bush, culminando com o 11 de setembro, conclui que sim eu era parte da história do século XX e XXI.

Em Abril de 1995, 5 meses após minha visita aos EUA, recebi finalmente a notícia através da Cruz Vermelha Internacional, da morte de minha mãe, que foi barbaramente assassinada, a sangue frio, exactamente dia 30 de Outubro de 1994, pelas que se retratavam da ocupação do Huambo. Longe de saber que aquele dia em DC, também os disparos do conflicto em minha terra ficariam personalizados, bateriam mais perto do meu coração.

Caros, dor e dor, nenhuma é maior do que a dos outros, só porque uns perderam famílias inteiras e outros perderam um só membro da família, isso não minimiza a dor que se sente.

Em Londres, em 1999, já formado, mais em meio a recessão econômica e desempregos desta época, tomei a decisão mais sabia de minha vida, que foi a de emigrar para o pais dos Clintons. Objectivos estratégicos estavam bem definidos. E que eu queria mesmo ser parte do ‘American Dream’ sonho Americano. O ano era 1999, meu destino foi, Massachussett. Com esta destinação, eu aproveitaria ficar perto de minha filha que vivia no Estado vizinho.

A economia Americana da década de 90 era relativamente boa, o emprego era fácil de se achar. Meu primeiro ‘real job’ foi com a firma Fidelity Investments, um Banco (brokerage house) especializada em gestão de patrimônios, pensões tais como (401k) Mutual funds, derivativos e outros. Assim aprendi os segredos de Wall Street.

Assim, pela primeira vez em minha vida Professional vi-me a gerir contas de clientes com USD 10 milhões de balanço. Quando em 2000 a minha esposa decidiu juntar-se a mim no meu novo país, eu já não era membro da ‘camada baixa’; já tinha contas bancárias, cartões de crédito com limites ate USD 100 mil e o AMEX. Junte-se a isso o facto de que minha esposa nesta altura trabalhava para a Calton Television em Londres como Engenheira Senior, e eu já bem estabelecido nos Estates. Não foi difícil tomarmos a decisão de constituir família, já que a esta altura, já havíamos completado 9 anos de luas de mel, e ainda não tínhamos filhos.

Boston não foi a cidade de preferência da Lindy, ela preferiu mesmo Washigton, D.C. Em parte porque aí eu mesmo tinha sido acusado de ter levado uma Negra Americana a fazer operação plástica para diminuir seu estômago, tendo morrido. É que suas amigas revelaram que eu era o “target” principal desta plástica já que ela suspeitava que a razão pela qual eu não correspondia a seus avanços amorosos era porque ela era tamanho 18. Que episódio negro de uma paixão não correspondida. Por isso pareceu-me bem, juntos, irmos para outras paragens.

Na capital Americana, eu logo iniciei um programa de mestrado ou MSBA conforme era conhecido na Strayer University, enquanto minha esposa trabalhava numa empresa de IT perto do Aeroporto de Dulles.

Eu trabalhava também e era analista financeiro na famosa empresa MCIWorldcom, que viria a aplicar em 2002 para capítulo 11 do código comercial Americano. Como conseqüência da bancarrota desta empresa, (governos estremeceram com a possibilidade da falência deste gigante, já que ela controlava 52% de trafego de internet no mundo). Eu fui um dos 2000 mil trabalhadores que na área de Washington Metro ficou afectado com esta crise dos USD 7 Bilhões em vermelho, que levou a empresa a buscar proteção no capitulo 11.

Mais não tardou até que conseguisse uma nova vaga na empresa Fannie Mae. Nesta altura nossa filha Nasoma tinha 3 meses quando perdi meu emprego. Junte-se o 11 de Setembro que presenciamos, e que criou muitos constrangimentos, o sonho Americano já estava ficando azedo para nos.

Em 2003, num simples levantamento de mercado de trabalho, distribui meu currículo (CV) via internet para todas as petrolíferas baseadas em Angola.

Meu CV criou interesse e fui entrevistado em DC e Houston por 4 empresas petrolíferas. A que mais me impressionou, e com a qual pretendia fazer carreira em Angola, e seduzido com o sonho do poeta maior, ‘havemos de voltar’, ainda mais imbuídos de valores afectivos e cultural que esta oportunidade oferecia, convenci minha família a acompanhar-me para Luanda.

E que já com o emprego garantido com a tal petrolífera e uma carreira pela frente, tudo indicava que estávamos no curso certo. Para nossa surpresa e espanto, Luanda, no frio de Dezembro, chama-nos e faz a propostas de expatriação para Londres por 3 anos, ao invés de irmos para Angola.

Minha pergunta aos RH, desconhecendo o que era ser expatriado foi: vocês vão levar o meu carro e pagar minha renda por lá? É que vivi 10 anos em Londres, eu bem conhecia a vida cara daquela cidade, e o quanto nós aí sofremos como estudantes. Eu não queria voltar a re-viver aquilo, quando na verdade nos estávamos muito bem aí em Centreville, County de FairFax, Virgínia, que na altura era o mais rico “county” dos EUA. Com o contracto em mão, e que este garantia-nos um pacote de expatriado atrativo, partimos para Londres onde em 2006 viria a nascer nosso segundo filho Jaydn Siono.

Foi bastante preocupante quando a empresa, sem explicação, não deixou-nos completar os 3 anos do contracto.

Partimos para Luanda em Setembro de 2006, depois de quase 20 anos na diáspora.

O ‘village boy’ que partiu de Angola em 1987, agora retornava para a terra mãe com sérios canudos, uma esposa estrangeira, uma filha na altura com 4 anos e um bebé de 4 meses. Por cá, acredito, tivemos um bom começo, graças a nossa firma. Mas, nem tudo que brilha e ouro, já diziam os verdugos. Na verdade eu tinha um bom emprego na mesma empresa petrolífera. Em menos de dias compramos um carro novo para andar, (em Luanda carro não e luxo, só quando o indivíduo tem uma frota, aí sim e mesmo luxo). Como muitos, partimos para a compra de casa, mas no fim decidimos alugar um apartamento, até hoje, já que comprar de casa em Luanda não e coisa fácil.

O maior problema que nos fez pensar que ainda não estávamos no nosso próprio país é quando a empresa nos deu 30 dias de acomodação em sua casa de passagem e no fim destes nos não conseguimos assegurar nada. Fui servido com uma nota de insubordinação pelo meu chefe e o chefe dele que vinham de férias, não se importando, no entanto, em saber, por que não tínhamos conseguido lugar para ficar. Eles simplesmente chamaram-me para uma sala de reunião e entregaram-me a carta para assinar. O documento dava-me 24 horas para sair da casa de passagem da empresa.

Naquele triste dia, naquela sala, e naquele prédio, quando estes dois estrangeiros, um Americano e um Argentino, ambos expatriados deram-me esta carta, apercebi-me do poder que estes tinham sobre o meu futuro, incluindo o poder de me fazerem dormir ao relento com minhas “vicuatas”.

Também, descobri uma verdade não muito desconhecida: é que a “angolanização” ainda tinha um bom caminho pela frente.

Fiquei com vontade de ser Nigeriano, Venezuelano, enfim. Imagino eles fazerem isso naquelas paragens? Seus activos seriam urgentemente socializados, nacionalizados, sei lá o que mais.

Já cá, meu trabalho, como analista comercial consistia em implementar acordos do programa de habitação dos trabalhadores com os bancos locais e a gestão e implementação dos seguros energia e não energia da empresa além de outros trabalhos analíticos. Gostei muito desta experiência, e no fim fiz grandes amizades com as seguradoras nacionais, Sonangol e MinPet.

Não quero aqui dizer que algo vai mal nessa petrolífera, mais parece-me que uma empresa de 500 trabalhadores, que perde 25 trabalhadores por ano, e todos eles insatisfeitos, nunca devia ludibriar-nos que quer ser uma companhia de local de energia – demagogia tem limites.

O pior de tudo, é que antes mesmo de eu dizer adeus a esta empresa na semana passada, já aqueles que cortaram relações jurídico-laborais com ela antes de mim, dentre eles, nenhum e hoje amigo da empresa ou fala bem dela. Eu junto-me a eles e com muitas razões que devem passar certamente por vias jurídicas.

Dizia e com razão Lord Alexander, que “o lugar mais quente no inferno, reserva-se para homens e mulheres que na hora da crise se mostraram indiferentes”.

Conheço pessoas que saíram, por exemplo, da Total E&P-Angola, que hoje ainda vão pra lá visitar e falam bem dela, mais não desta nossa, onde nós temos um ‘ministrum’ ou servidor (permitam-me um pouco de latim) que devia servir, mais na verdade esta mais interessado no seu ‘peculium’ do que em seus irmãos.

Assim na orgia e suor de muitos, ao longe e em clarões esta empresa cintila. Talvez o certo fosse acreditar que para certos líderes como o da minha ex-empresa, a quem os donos ordinariamente deram muita espada, ele acaba provando para todos nós que tem pouca língua. E como conseqüência natural, no seu espaço e tempo, ele tem o cuidado de só abater e humilhar aos que muito roncam, isto porque ele não quer roncadores – dai a indiferença descarada que se vive nesta unidade de produção de ouro negro.

A conclusão a que muitos podem chegar, e que talvez esta empresa, não valoriza quadros nacionais, senão vejamos: como é que um quadro superior como eu efectivo na empresa a 5 anos, e nunca fui disciplinado, não tem direito a telefone para serviço, tenho que receber telefonemas de serviço no meu telefone pessoal? Como se não bastasse, ainda a chefe do meu chefe, também estrangeira, exige que eu scaneie 1000 páginas de apólices de seguro energia já caducadas desde 2003 ate a data?

Pior ainda, agora que já sai me pergunto como e que meu salário em cinco anos só subiu USD 200.00? Algo não esta bem, e acho que o decreto 116.08 de 14 de Outubro, 2008 devera repor alguma ordem no sector começando com a minha ex-empresa.

Coragem manos e manas que por aí ficais, até o cão tem o seu próprio dia.

Com espanto ainda escutei e senti-me encorajado quando o Director do RH de minha empresa, falou-me da estratégia maquiavélica dos nossos chefes em relação a certos angolanos, eu incluído. Pelo que ficou expressado por ele, algo não ia bem, havia injustiça e que se eu fosse sair, fizesse algo para beneficiar os que ficam – tentou seduziu-me assim a fazer o trabalho que e primeiramente dele – assim são os líderes passivos.

Ora bem, ser líder sindical, não e meu forte, e por isso ao tecer estes comentários e tudo que posso e sei, na ânsia de que alguém por este pai a fora posa ler e tomar medidas.

Eu saio em paz comigo mesmo, muito embora sem que a empresa me tenha dado uma única explicação em relação as minhas perguntas e demandas. Não acho que estes tratamentos dignificam os Angolanos. Julgando pelos indicadores acima mencionados, este nosso recurso natural, não esta sendo uma bênção. Até que para muitos e mais uma maldição do que bênção. Essa e a verdade dos quadros angolanos como eu, que por aí passaram, e juram nunca mais voltar para este sector que ainda pertence às áreas não libertadas.

Já agora não quero esquecer dizer à nação, que aqui em Luanda, sentava ao lado de alguns estrangeiros/expats que facturam mais USD 20 mil por mês, e por cima têm carro da empresa e casa paga em Atlântico Sul.

Eles vivem o sonho angolano. Eles são peritos no sector e sabem tudo, por isso ganham 4 vezes mais que qualquer angolano, não importa onde estudou ou se a empresa o mandou por 3 anos fora para a formação.

Imagine você chegar ao serviço, atrasado por causa das enchuvadas típicas de Luanda. A casa não teve energia a noite anterior, água e do bidon, transporte foram os miúdos do bairro que levaram nas costas para atravessar as lagoas do bairro. O indivíduo precisou de 3 anjos candongueiros, sem cinto de segurança(lá nas petrolíferas antes dos cintos serem lei, já era lei usá-los) para chegar a cidade. Agora o chefe que chega de Luanda Sul, com motorista particular e diz: “a próxima você fica com falta injustificada”.

Eu até entendo o porquê sirvo-me então do contexto da lei da seleção natural para ajudar-vos a responder. Diga-se a verdade: o petróleo do mar do norte esta a secar. Já que aqui e o que está a dar, então eles ficam aqui 4 ou mesmo 6 anos, e não transferem “know how” ou conhecimento nenhum a angolanos (uma vez em Londres um “Especial Assistant” chamados na firma EA ou Assistente especial, disse-me que “nunca transferiria nenhum conhecimento a alguém que no futuro lhe tiraria o emprego. Que confissão tropical). Por isso e que quando chega a hora de irem-se embora, além das lágrimas, eles tudo fazem para serem substituídos por outros muzungos. Até quando esta situação?

Será que Nigerizar Angola e a única via para tomar-mos controle deste e outros recursos? Talvez não, porque temos um governo que já esta mostrando as garras, e isto e bom. Para mim, os ‘blue stamps’ se foi uma invenção lá de Olimpus, cidade grega onde moravam os deuses, a actual medida deixa muitos deixa-me radiante e certo que meu filho já mais passará pelo que passei com estes monstros.

Há certamente por este país, muitos angolanos como eu, de gênio profundamente equilibrado, que tudo farão para que seu contributo já mais se esvazie, sob a sombra do gosto burguês, seja ele da nomenclatura, ou seja os David Livingstons, também sejam eles de que hemisfério.

Hoje, sim, terminou para mim um sonho que já estava se tornado em pesadelo. Quando ao futuro, fechou-se uma porta e mil janelas estão já se abrindo graças ao todo poderoso. Talvez dedicando-me a vida empresarial ainda poderei sim fazer a diferença.

A minha semelhança, acredito piamente, que há uns tantos que como eu, têm abraçado, não só o sonho de voltar a terra que os viu a nascer, e também para conquistarem o sonho Angolano mas, infelizmente, muitos deles, estão perdendo o espírito patriótico que os guiou, tudo por causa da prosmicuidade dos colossus que por cá mandam em toda actividade econômica.

Para mim, quase 3 anos desde nosso triunfante regresso a pátria, ainda pergunto-me a mim mesmo: valeu apenas ter voltado? Teria sido melhor ter permanecido na diáspora? Só o tempo dirá. Entretanto, quando vejo minha família já a falar o português e a apreciar o nosso tecido cultural, fico com a sensação de missão cumprida.

Termino aqui fazendo uso das palavras do bem conceituado artista e musico angolano Yannick quando ele diz que “deste lado temos algo em comum”: só que paradoxalmente, nas empresas petrolíferas nos os Mwuangoles não estamos a travar outros Mwuangoles, a única verdade inquestionável é que, por onde eu passei, o estrangeiro tem mesmo mais facilidades.

* Economista angolano

Mario Kumanda é demitido da BP




Há poucos dias este blog noticiou que o Economista angolano Mário Kumandala se encontrava na marca da grande “penalidade na BP”.

A empresa petrolifera británica que opera em Angola bateu a penalidade e converteu. O guarda-redes foi para um lado e a bola para outro lado. Menos um angolano.

A partir desta semana Mario Kumandala, pai de família, casado com cidadã estrangeira, infelizmente, se incorpora às estatísticas de milhões de angolanos desempregados.

A grande pergunta que se faz: “será que certas petrolíferas cumprem com a “angolanização?”