- " Enviara-me uma TALA". Normalmente é assim que a vítima começa por afirmar.
Tala (ou otala em língua nacional Umbundu) manifesta-se como uma dor local, picante (parecendo estar-se na presença de gindungo ou pimenta), inflama o local afetado chegando a mudar a coloração da pele.
A ocorrência de tala (grau de endemicidade) é maior nas províncias do Kuanza Sul, Huambo e Bié.
Tratamento
Muitas pessoas acreditam que o tratamento não devem ser feito pela medicina convencional, mas sim pela tradicional (nos curandeiros ou Quimbandeiros). Popularizou-se a idéia segundo a qual aquele que procurar a medicina convencional certamente “irá morrer”, por se tratar de uma doença de “encomenda”.
Nos hospitais, a medicina convencional quando se depara com essa situação receita anti-inflamatórios e anti-térmico, para reduzir a dor. Se no prazo de 3 dias não houver nenhuma melhora imediatamente recomenda que o paciente procure a medicina tradicional (herbanários). Aliás, nos últimos dias até médicos de outras nacionalidades, como cubanos, recomendam "curandeiros" já no primeiro encontro com o paciente.
O tratamento na medicina tradicional, normalmente consiste no seguinte: primeiro faz-se o teste se se trata de tala ou não. O paciente ingere um determinado líquido. O teste é positivo quando a dor e a inflação começam a se expandir (dificilmente se tem teste negativo). Por exemplo, se o paciente tiver tala do dedo, ao ingerir esse liquido, a dor e a infamação tenderão se expandir pelo braço a fora, ou seja, a expansão do veneno.
Nesse caso o tratamento inicia-se com pequenos cortes feitos com lâmina para se fazer a sangria. Passa-se certo pó sobre esses cortes para a extração do “veneno”. Segue-se um ritual próprio que consiste para além de lançamento de fumos as rezas aos “deuses”.
Durante 15 dias o paciente não pode beber água (apenas chás), não pode tomar banho e não pode alimentar-se de carnes, mandioca, funge de bombom e folhas de Kizaca (folhas da mandioqueira) e outros alimentos que o próprio "quimbandeiro" prescreve.
Normalmente os quimbandeiros obtêm sucessos nesse tipo de tratamento, excepto aos diabéticos, que normalmente falecem três dias depois devido às infecções que acabam adquirindo por causa das dificuldades que têm de cicratizações principalmente nas extremidades do corpo. O custo do tratamento da tala do peito, a título de exemplo, custa 50.000,00 kz (USD 500,00).
Para todos efeitos isso tem levado a um debate muito acalorado. Muitas vozes tem se levantado para que a medicina tradicional (medicina alternativa) seja reconhecida em Angola uma vez que consegue tratar de doenças que a medicina Convencional (alopática) se vê impotente de tratar.
Tipos de tala
Os tipos mais comuns de tala são: tala do pé, dedo, cabeça, peito, braço e testículos.
A venda da doença de tala
Afirma-se que as talas podem ser compradas nos mercados informais. O preço da tala do pé, por exemplo, custa 30,00 kz, do braço 150 kz. (USD 1,50)
Formas de infecção
Acredita-se “o criminoso” pode infectar a sua vítima através de um abraço ou formas similares. Acredita-se também que muitos adolescentes ou juvenis são treinados para esse tipo de ação. A tala ao ser adqurida é "direcionada" para a pessoa certa. Se eventualmente infectar a pessoa errada, essa não sentirá fortes dores e o seu tramento será muito fácil. Aqui é que está uma das partes misteriosa dessa doença. O veneno não pode ser selectivo. Há aqui uma pequena dose de "misticismo".
O Jornal de Angola (29 de Maio, 2010) cita a “Tala ou mina tradicional” como “uma das enfermidades provocadas por forças ocultas”. (http://jornaldeangola.sapo.ao/14/16/curar_doencas_com_as_plantas)
Nota do autor:
Da análise que fiz, acredito que se tratar de uma doença onde forças ocultas, de origem sobre-natural, se aproveitam para espalharem pânico entre as populações. Os próprios kimbandeiros estão em melhores condiçõs de explicarem o segredo da doença. Curioso é que esta doença ataca pessoas que nela acreditam, mormente os hipocondríacos, de baixa escolaridade e “mente fraca” (psicologicamente derrotada, frustada, pouca espiritualidade). O livro "A grande Esperança" de E. White pode ajudar a entender os mecanismos de ação da "Tala". Estamos diante de "um grande conflito" entre as forças do bem e do mal.